B U R E A U O F P U B L I C S E C R E T S |
Descobertas pessoais
Interven��es cr�ticas
Teoria versus ideologia
Evitar falsas op��es e elucidar as verdadeiras
O estilo insurrecional
Cine radical
Opress�o versus jogo
O esc�ndalo de Estrasburgo
A mis�ria da pol�tica eleitoral
Reformas e institui��es
alternativas
Corre��o
pol�tica, ou igualdade na aliena��o
Inconveni�ncias do
moralismo e do extremismo simplista
Vantagens da aud�cia
Vantagens e limites da n�o
viol�ncia
�O indiv�duo n�o pode saber o que ele realmente � enquanto n�o se realizar mediante a a��o. . . . O interesse que o indiv�duo encontra em um projeto � a resposta � quest�o sobre se deve atuar ou n�o e como�.
� Hegel, Fenomenologia do esp�rito
Mais adiante tratarei de responder a algumas outras obje��es comuns. Mas enquanto os objetores permanecerem passivos, nenhum argumento do mundo os comover�, e continuar�o entonando o velho refr�o: �� uma bela id�ia, mas n�o � realista, vai contra a natureza humana, as coisas sempre foram assim�. Quem n�o realiza seu pr�prio potencial � improv�vel que reconhe�a o potencial dos outros.
Parafraseando aquela velha ora��o plena de sentido, necessitamos de iniciativa para resolver os problemas que podemos resolver, de paci�ncia para suportar os que n�o podemos resolver, e sabedoria para discernir a diferen�a. Mas tamb�m necessitamos ter presente que alguns dos problemas que o indiv�duo isolado n�o pode resolver podem ser resolvidos coletivamente. Descobrir que outros compartilham do mesmo problema � com freq��ncia o princ�pio da solu��o.
Alguns problemas podem, por conseguinte, ser resolvidos individualmente, mediante m�todos diversos que v�o desde terapias elaboradas, pr�ticas espirituais, e at� mesmo simples decis�es de sentido comum para corrigir alguma falha, romper com algum h�bito nocivo, provar alguma coisa nova, etc. Mas n�o me ocupo aqui de expedientes puramente pessoais, �teis mesmo dentro de seus limites, mas dos momentos em que as pessoas se movem "para fora" em empresas deliberadamente subversivas.
Existem mais possibilidades do que parece � simples vista. Uma vez que se recha�a a intimida��o, algumas delas s�o muito simples. Podes come�ar por onde quiseres. Mas tem que faz�-lo a partir de algum lugar - Cr�s que poder�s aprender a nadar se nunca te atirastes na �gua?
As vezes � preciso um pouco de a��o para romper com o falat�rio excessivo e restabelecer uma perspectiva concreta. N�o importa que seja algo transcendental; se n�o surge outra coisa, pode bastar alguma iniciativa arbitr�ria - suficiente para mover um pouco as coisas e despertar.
Outras vezes � necess�rio deter-se, romper a cadeia de a��es e rea��es compulsivas. Aclarar o ambiente, criar um pequeno espa�o livre da cacofonia do espet�culo. Quase todos fazem isto em alguma medida, por simples autodefesa psicol�gica instintiva, praticando alguma forma de medita��o, comprometendo-se periodicamente em alguma atividade que serve efetivamente ao mesmo prop�sito (trabalhar no jardim, passear, pescar), ou deter-se para respirar um pouco em meio a sua rotina quotidiana, voltando por um momento ao �centro tranq�ilo�. Sem tal espa�o � dif�cil ter uma perspectiva sadia sobre o mundo, ou mesmo conservar o pr�prio ju�zo.
Um dos m�todos mais �teis que encontrei foi escrever. O beneficio � em parte psicol�gico (alguns problemas perdem seu poder sobre n�s ao ordenar-se de modo que podemos ve-los mais objetivamente), em parte pela quest�o da organiza��o de nossos pensamentos para ver os diferentes fatores e op��es mais claramente. �s vezes mantemos no��es inconsistentes sem chegar a tomar consci�ncia das contradi��es at� que tentamos colocar essas coisas no papel.
�s vezes tenho sido criticado por exagerar na import�ncia das coisas escritas. Reconhe�o, assim, que muitos assuntos podem ser tratados de modo mais direto. Inclusive as a��es n�o verbais requerem normalmente que se pense, que se fale e que se escreva acerca delas para leva-las a cabo, comunica-las, debat�-las e corrigi-las eficazmente.
(De qualquer forma, n�o pretendo ocupar-me de todos os assuntos; apenas abordo alguns pontos acerca dos quais sinto que tenho algo a dizer. Se acha que esqueci de passar algo importante, porqu� voc� mesmo n�o faz isso?)
Escrever te permite desenvolver id�ias em teu pr�prio ritmo, sem se preocupar com tua habilidade orat�ria ou medo do p�blico. Podes expressar uma id�ia de uma vez por todas em vez de ter que repeti-la constantemente. Se � necess�ria a discri��o, um texto pode ser lan�ado anonimamente. As pessoas podem l�-lo em seu pr�prio ritmo, parar e pensar sobre ele, voltar atr�s e revisar pontos espec�ficos, reproduzi-lo, adapta-lo, recomenda-lo a outros, etc. O discurso falado pode gerar uma rea��o mais r�pida e precisa, mas pode tamb�m dispersar tua energia, te impedir de se concentrar e de executar tuas id�ias. Aqueles que s�o escravos da mesma rotina que te escraviza tendem a resistir a teus esfor�os por escapar porque teu �xito desafiaria a passividade deles.
�s vezes o melhor que podes fazer para provocar melhor estas pessoas � simplesmente deix�-las para traz e seguir teu pr�prio caminho. Ao ver teu progresso, algumas delas dir�o: �Ei, espere-me!�. Ou transferir o di�logo a um plano diferente. Uma carta for�a tanto quem a escreve como quem a recebe a desenvolver suas id�ias mais claramente. As c�pias nas m�os de outras pessoas envolvidas podem a avivar a discuss�o. Uma carta aberta pode atrair o interesse de mais gente.
Se se consegue criar uma rea��o em cadeia na qual cada vez mais gente l� teu texto porque v� que outros lendo e o discutem acaloradamente j� n�o ser� poss�vel para ningu�m fingir que n�o t�m consci�ncia dos temas que est�o circulando. (1)
Suponhamos, por exemplo, que criticas a um grupo por ser hier�rquico, por permitir que um l�der tenha poder sobre outros membros (ou seguidores ou f�s). Uma conversa privada com um dos membros pode simplesmente resultar em uma serie de rea��es defensivas contradit�rias contra as quais � in�til argumentar. (�N�o, ele n�o � realmente nosso l�der, e se for, n�o � autorit�rio, e al�m disso, que direito tens tu de criticar?�) Mas uma cr�tica p�blica obriga a tirar essas contradi��es e p�e as pessoas diante de um fogo cruzado. Enquanto um membro nega que o grupo seja hier�rquico, um segundo pode admitir que � hier�rquico e tentar justificar isto atribuindo ao l�der uma perspic�cia superior. Isto pode fazer pensar em um terceiro membro.
A princ�pio, molestados por teres perturbado sua pequena e c�moda tert�lia, � prov�vel que o grupo cerre fileiras em derredor do l�der e denuncie tua �negatividade� ou �arrog�ncia elitista�. Mas se tua interven��o for suficientemente aguda pode calar fundo e ter um forte impacto. O l�der tem que tomar cuidado posto que todos est�o mais sens�veis a qualquer coisa que possa parecer confirmar tua cr�tica. Para demostrar qu�o injusto tu estavas, pode ser que os membros insistam em uma maior democratiza��o. E inclusive se o grupo particular se mostra imperme�vel � mudan�a, seu exemplo pode servir como li��o para um p�blico mais amplo. Outras pessoas que n�o estejam comprometidas e que, sem tua cr�tica, haveriam cometido talvez erros similares podem ver mais facilmente a pertin�ncia de tua cr�tica porque tem menos investidura emocional no grupo.
Normalmente � mais efetivo criticar institui��es e ideologias que atacar aos indiv�duos que se encontram simplesmente envolvidos com elas - n�o apenas porque a m�quina � mais importante que suas partes m�veis, mas porque este enfoque faz mais sentido para os indiv�duos na hora de salvar a cara dissociando-se eles mesmos da m�quina.
Mas por mais diplom�tico que sejas, quase toda cr�tica significativa seja ela qual for provocar� provavelmente rea��es defensivas irracionais, que v�o desde ataques pessoais at� invoca��es de uma ou outra ideologia da moda para demonstrar a impossibilidade de qualquer considera��o racional dos problemas sociais. A raz�o � denunciada como fria e abstrata pelos demagogos que acham mais f�cil jogar com o sentimento das pessoas; a teoria � depreciada em nome da pr�tica
Teorizar � simplesmente tratar de entender o que fazemos. Todos somos te�ricos ao discutir honestamente sobre o que sucede, distinguir entre o significante e o irrelevante, penetrar as explica��es falsas, reconhecer o que foi eficaz e o que n�o foi, considerar como algo pode ser feito melhor da pr�xima vez. A teoria radical � simplesmente falar ou escrever a uma grande quantidade de pessoas sobre temas mais gerais em termos mais abstratos (ou seja, mais amplamente aplic�veis). Inclusive aqueles que dizem recha�ar a teoria teorizam � simplesmente o fazem mais inconsciente e caprichosamente, e portanto de modo mais impreciso.
A teoria sem casos particulares � vazia, mas os casos particulares sem a teoria s�o cegos. A pr�tica prova a teoria, mas a teoria tamb�m inspira pr�ticas novas.
A teoria radical n�o tem nada que respeitar nem nada que perder. Critica a si mesma como tudo o mais. N�o � uma doutrina que deva ser aceita pela f�, mas uma tentativa generalizada que as pessoas devem provar e fazer constantes corre��es por si mesmas, uma simplifica��o pr�tica indispens�vel para tratar com as complexidades da realidade.
Mas com o cuidado de que n�o seja uma simplifica��o excessiva. Toda teoria pode transformar-se em ideologia, chegar a ser r�gida como um dogma, ser desviada para fins hier�rquicos. Uma ideologia sofisticada pode ser relativamente segura em certos aspectos; o que a diferencia da teoria � que carece de uma rela��o din�mica com a pr�tica. Na teoria tu tens id�ias; na ideologia as id�ias tem a ti. �Busca a simplicidade, e desconfia dela�.
Evitar falsas op��es e elucidar as verdadeiras
Temos de encarar o fato de que n�o h� truques seguros, de que nenhuma t�tica radical � invariavelmente apropriada. Algo que � coletivamente poss�vel durante uma revolta pode n�o ser uma op��o sensata para um indiv�duo isolado. Em certas situa��es urgentes pode ser necess�rio incitar as pessoas a levar a cabo alguma a��o espec�fica; mas na maioria dos casos o que mais conv�m � simplesmente elucidar os fatores relevantes que as pessoas devem levar em conta ao tomar suas pr�prias decis�es (Se me atrevo a dar aqui ocasionalmente alguns conselhos diretos, � por conveni�ncia de express�o. �Fazer isso ou aquilo� deve ser entendido como �Em algumas circunstancias fazer tal coisa pode ser uma boa id�ia�).
Uma an�lise social n�o necessita ser grande e detalhada. Simplesmente �divida em um ou dois pontos� (indicando as tend�ncias contradit�rias dentro de um determinado fen�meno, grupo, ou ideologia) ou �agrupe os dois dentro de um� (revelar um aspecto comum entre duas entidades aparentemente distintas) pode ser �til, especialmente se se comunica aos diretamente envolvidos. O acesso a uma informa��o � mais importante que levantar muitos temas; o que faz falta � abrir o caminho entre o excesso para revelar o essencial. Fazendo isso, outras pessoas, inclusive as bem informadas, ser�o estimuladas a efetuar investiga��es mais completas, caso necess�rio.
Quando nos defrontamos com determinado t�pico, a primeira coisa a fazer � determinar se com efeito � um simples t�pico. � imposs�vel levar uma discuss�o significante sobre �marxismo�, �viol�ncia�, ou �tecnologia� sem distinguir os diversos sentidos que se incluem sob tais etiquetas.
Por outro lado, tamb�m pode ser �til tomar um tema amplamente abstrato e mostrar suas tend�ncias predominantes, se bem que tais tipos puros n�o existam realmente. O panfleto Sobre a mis�ria no meio estudantil... dos situacionistas, por exemplo, enumera mordazmente toda sorte de estupidez e pretens�es do �estudante�. Obviamente nem todo estudante � culpado destes defeitos, mas o estereotipo serve como um enfoque a partir do qual organizar uma cr�tica sistem�tica das tend�ncias gerais. Sublinhando as qualidades que a maioria dos estudantes tem em comum, o panfleto tamb�m desafia �queles que afirmam ser exce��es para que provem. O mesmo se aplica � cr�tica do �pro-situ� em A verdadeira cis�o na Internacional de Debord e Sanguinetti � um desafiante desprezo aos seguidores, talvez �nico na historia, dos movimentos radicais.
�Pe�a a todos uma opini�o acerca de cada detalhe para que possas visualizar a totalidade� (Vaneigem). Muitos temas est�o t�o carregados emocionalmente que qualquer rea��o a eles pode levar ao emaranhado das falsas op��es. O fato de que dois lados estejam em conflito, por exemplo, n�o significa que devas apoiar alguma das partes. Se n�o podes fazer nada acerca de um problema em particular, � melhor confessar claramente este fato e passar para outro assunto que tenha possibilidades pr�ticas presentes. (2)
Se tomas partido escolhendo um mal menor, admita isso; n�o aumente a confus�o purificando tua escolha ou demonizando ou inimigo. Se tem que fazer algo, analise sob todos os aspectos: seja advogado do diabo e neutralize o del�rio pol�mico compulsivo examinando com calma os pontos fortes da posi��o oposta e os pontos d�beis da tua. �Um erro muito comum: ter a coragem de defender as pr�prias posi��es; a quest�o � ter a coragem de atacar as pr�prias convic��es!� (Nietzsche).
Combina a imod�stia com a aud�cia. Recorda que se consegues realizar algo � sobre a base dos esfor�os de muitos outros, muitos dos quais tem enfrentado horrores tais que fariam a ti e a mim desabar em submiss�o. Mas n�o esque�as que o que dizes pode produzir algum efeito: dentro de um mundo de espectadores pacificados at� mesmo a mais pequena express�o aut�noma sobressai.
Posto que j� n�o h� nenhum obst�culo material para inaugurar uma sociedade sem classes, o problema se reduz essencialmente a uma quest�o de consci�ncia: o �nico obst�culo real � que as pessoas ignoram seu pr�prio poder coletivo. (A repress�o f�sica � efetiva contra as minorias radicais apenas na medida em que o acondicionamento social mant�m d�cil o resto da popula��o). Por conseguinte um elemento amplo da pr�tica radical � o elemento negativo: atacar as formas diversas da falsa consci�ncia que impedem as pessoas de dar-se conta de suas potencialidades positivas.
Tanto Marx como os situacionistas tem sido com freq��ncia denunciados de modo ignorante por essa negatividade, porque eles se concentraram principalmente no esclarecimento cr�tico evitando promover qualquer ideologia positiva que as pessoas pudessem aderir passivamente. Por Marx ter destacado a forma como o capitalismo reduz nossas vidas a um precip�cio econ�mico, os apologistas �idealistas� deste estado de coisas lhe acusam de �reduzir a vida a temas econ�micos� � como se a grande import�ncia do trabalho de Marx n�o fosse ajudar-nos a superar nossa escravid�o econ�mica para que nossos potenciais criativos pudessem florescer. �Apelar para que as pessoas abandonem suas ilus�es sobre sua condi��o � apelar para que abandonem uma condi��o que requer ilus�es... A cr�tica arranca as flores imaginarias da pris�o n�o para que o homem continue suportando essa pris�o sem fantasia ou consola��o, mas para demolir a pris�o e recolher a flor vivente (Introdu��o a uma cr�tica da filosofia do direito de Hegel).
Expressar acertadamente um tema chave com freq��ncia tem um efeito surpreendentemente poderoso. Jogar luz sobre as coisas faz com que as pessoas abandonem suas evasivas e tomem posi��o. Como o destro a�ougueiro na f�bula tao�sta que nunca necessitava afiar a faca porque sempre cortava pelas juntas, a polariza��o radical mais efetiva n�o vem de protestos estridentes, mas de simplesmente revelar as divis�es que existem, elucidar as diferentes tend�ncias, contradi��es, op��es. Muito do impacto dos situacionistas procede do fato de que articularam coisas que a maioria das pessoas j� havia experimentado, mas n�o eram capazes de expressa-las ou temiam faz�-lo at� que o gelo fosse rompido. (�Nossas id�ias est�o na mente de todos�)
Se alguns textos situacionistas parecem sem embargo dif�ceis ao principio, � porque sua estrutura dial�tica vai contra a fibra de nosso condicionamento. Quando este condicionamento se rompe n�o parecem t�o obscuros (foram a origem de alguns dos grafites mais populares de maio de 68). Muitos espectadores acad�micos ficaram confusos tratando de resolver sem �xito as v�rias descri��es �contradit�rias� do espet�culo em A sociedade do espet�culo deixando escapar defini��es simplistas como, �cientificamente consistente�; mas qualquer um que esteja comprometido com a contesta��o desta sociedade comprovar� que um exame elaborado desde diferentes �ngulos, como fez Debord, � esclarecedor e �til, e far� tudo que estiver ao seu alcance para n�o desperdi�ar uma �nica palavra em vulgaridades acad�micas ou em express�es escandalosas e in�teis.
O m�todo dial�tico que vai de Hegel e Marx aos situacionistas n�o � uma f�rmula m�gica para produzir uma serie de predi��es corretas, � uma ferramenta para apreender os processos din�micos da mudan�a social. Nos recorda que os conceitos sociais n�o s�o eternos; e que contem suas pr�prias contradi��es, interagindo e transformando-se entre si, inclusive em seus opostos; que o que � verdadeiro e progressista em um contexto pode chegar a ser falso e regressivo em outro.(3)
Um texto dial�tico pode requerer um estudo cuidadoso, uma vez que cada nova leitura � portadora de novos descobrimentos. E mesmo que apenas influa diretamente em pouca gente, tende a faz�-lo t�o profundamente que muitos deles acabam influindo em outros da mesma forma, levando a uma rea��o qualitativa em cadeia. A linguagem n�o dial�tica da propaganda esquerdista � mais f�cil de entender, mas normalmente seu efeito � superficial e ef�mero; ao n�o delinear desafios, logo acaba aborrecendo os espectadores confusos sobre o que foi exposto.
Como descreve Debord em sua �ltima pel�cula, aqueles que acham que o que dizem � demasiado dif�cil fariam melhor culpar sua pr�pria ignor�ncia e passividade, culpar �s escolas e � sociedade que lhes fez deste modo, do que queixar-se de sua pr�pria obscuridade. Quem n�o tem suficiente iniciativa para reler textos cruciais, fazer uma pequena indaga��o, ou uma pequena experimenta��o por si mesmo � improv�vel que leve algo a cabo sem ser mimado pelos demais.
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Debord � praticamente a �nica pessoa que faz um uso verdadeiramente dial�tico e antiespetacular do cinema. Embora muitos realizadores ditos radicais aplaudam o �distanciamento� brechtiano, ou seja, cutucar os espectadores para que pensem e atuem por si pr�prios, em vez de absorv�-los em uma identifica��o passiva com o her�i ou a trama � a maioria das pel�culas radicais se dirige � audi�ncia como se ela fosse composta por um bando de imbecis. O parvo protagonista gradualmente �descobre a opress�o� e se �radicaliza� ao ponto de se alistar como um fervoroso partid�rio do "progressismo" pol�tico ou como um militante leal a algum grupo esquerdista burocr�tico. O mais distante que conseguem chegar se limita a algumas trucagens cinematogr�ficas que permitem ao espectador pensar: �Ah, um toque brechtiano! Como este realizador � inteligente! Sou muito esperto percebendo tais sutilezas!� A realidade, � que a mensagem radical � normalmente t�o banal quanto �bvia para qualquer um que fosse ver tal pel�cula pela primeira vez; mas o espectador tem a gratificante impress�o de que outras pessoas podem superar seu n�vel de consci�ncia vendo tal filme.
Se o espectador sente alguma inquietude acerca da qualidade do que est� consumindo, logo � acalmado pelos cr�ticos, cuja principal fun��o � descobrir profundos sentidos radicais em praticamente qualquer filme. Como no conto da roupa nova do imperador, � improv�vel algu�m admitir n�o ter consci�ncia destes supostos sentidos tanto que busca saber deles temendo ser taxado de menos sofisticado que o resto da plat�ia.
Certos filmes podem ajudar a expor alguma condi��o deplor�vel ou comunicar alguma no��o da sensa��o ante uma situa��o radical. Mas n�o � muito significativo apresentar imagens de uma luta se n�o se critica nem as imagens nem a luta. Os espectadores se queixam �s vezes quando determinada pel�cula retrata inadequadamente alguma categoria social (p. e. as mulheres). Isso pode ser certo na medida em que a pel�cula reproduz certos estere�tipos falsos; mas a alternativa normalmente impl�cita � de que o realizador �deveria apresentar imagens de mulheres lutando contra a opress�o � � � na maioria dos casos igualmente falsa. As mulheres (como os homens ou qualquer outro grupo oprimido) s�o de fato normalmente passivos e submissos � este � precisamente o problema que temos que encarar. Atender � autosatisfa��o das pessoas apresentando espet�culos de hero�smo radical triunfante apenas refor�a esta escravid�o.
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Confiar que condi��es opressivas radicalizem as pessoas � desaconselh�vel; pior�-las intencionalmente para acelerar este processo � inaceit�vel. A repress�o em cima de alguns projetos radicais pode incidentalmente trazer � tona o absurdo da ordem dominante; mas tais movimentos devem ser dignos de considera��o por seu pr�prio valor � perdem sua credibilidade se s�o meros pretextos desenhados para provocar a repress�o. Inclusive nos meios mais �privilegiados� quase sempre h� problemas mais que suficientes, � desnecess�rio agregar outros. O importante � revelar o contraste entre as presentes condi��es e as presentes possibilidades, e transmitir �s pessoas um maior apego e um maior desejo pela vida real.
Os esquerdistas com freq��ncia d�o a entender que � necess�rio muita simplifica��o, exagero e repeti��o para neutralizar toda a propaganda dominante. Isto � como dizer que um boxeador que ficou grogue por um gancho de direita voltar� � lucidez com um gancho de esquerda.
A consci�ncia das pessoas n�o �aumenta� quando a sepultamos sob uma avalanche de historias de horror, nem sob uma avalanche de informa��es. A informa��o que n�o � criticamente assimilada e utilizada logo acaba esquecida. Tanto a sa�de mental como a f�sica requerem um equil�brio entre a absor��o e a utiliza��o das informa��es recebidas. �s vezes pode ser necess�rio colocar pessoas complacentes diante de alguma atrocidade por eles desconhecida, mas mesmo quando as machucamos interiormente at� provocar n�useas, normalmente n�o se consegue outra coisa sen�o provocar uma fuga em dire��o a espet�culos menos chatos e deprimentes.
Um dos principais motivos que nos impede compreender nossa situa��o � o espet�culo de aparente felicidade de outras pessoas, que nos faz ver nossa pr�pria infelicidade como um um vergonhoso sinal de fracasso. Mas um espet�culo onipresente de mis�ria tamb�m nos impede de ver nossos potenciais positivos. A constante difus�o de id�ias delirantes e de atrocidades nausebundas nos paralisa, nos converte em c�nicos paran�icos e compulsivos.
A estridente propaganda esquerdista, ao fixar sua aten��o sobre o insidioso e sobre o odioso dos �opressores�, alimenta com freq��ncia o del�rio, apelando para o lado mais m�rbido e mesquinho do povo. Se nos limitamos a ruminar males, se permitimos que a enfermidade e a fealdade desta sociedade perverta inclusive nossa rebeli�o contra ela, esquecemos por que estamos lutando e terminamos perdendo a pr�pria capacidade de amar, de criar, de desfrutar.
A melhor �arte radical� se manifesta quando � ao mesmo tempo positiva e cr�tica. Quando ataca a aliena��o da vida moderna, ela nos adverte simultaneamente das potencialidades po�ticas ocultas dentro dela. Mais que refor�ar nossa tend�ncia em evocar a auto compaix�o, estimula nossa resist�ncia, nos permite rir tanto de nossos pr�prios problemas quanto da estupidez das for�as da �ordem�. Um bom exemplo s�o algumas das velhas can��es e tiradas c�micas da IWW [Industrial Workers of the World, organiza��o anarcosindicalista que ainda existe, mas que teve seu momento mais importante entre 1910-1930 (N. do T.)], se bem que a ideologia da IWW atualmente esteja um tanto quanto ran�osa. Outro exemplo s�o as ir�nicas can��es agridoces de Brecht e de Weill. A hilaridade de O bom soldado Svejk � provavelmente � um ant�doto mais efetivo contra a guerra do que o ultraje moral do t�pico folheto pacifista.
Nada atinge tanto a autoridade do que conduzi-la ao rid�culo. O argumento mais efetivo contra um regime repressivo n�o � afirmar sua maldade, mas sua estupidez. Um belo exemplo disso s�o os protagonistas da novela de Albert Cossery, A viol�ncia e a burla, que vivem sob uma ditadura no Oriente M�dio. Eles cobrem as paredes da capital com um p�ster de aspecto oficial que glorifica o ditador de um modo t�o rid�culo que o obriga a se demitir por vergonha. Embora os zombadores de Coss�ry sejam apol�ticos e seu �xito demasiado bonito para ser infal�vel, muitos tem utilizado algumas parodias similares com fins mais radicais (p.e. o golpe de Li I-Che mencionado em Public Secrets p�gina 304, �Um grupo radical em Hong-Kong�). Nas manifesta��es dos anos 70 na It�lia os �ndios Metropolitanos (inspirados talvez no primeiro cap�tulo de Sylvie and Bruno de Lewis Carroll: �Menos p�o! Mais impostos!�) portavam cartazes e cantavam slogans como �Poder os Chefes!� e �Mais trabalho! Menos sal�rio!� Qualquer um reconhecia a ironia, mas era mais dif�cil recha��-los com os habituais qualificativos.
O humor � um ant�doto saud�vel contra todo tipo de ortodoxia, tanto da esquerda quanto da direita. � altamente contagioso e nos incita a n�o levar as coisas demasiadamente a serio. Mas pode facilmente vir a ser uma mera v�lvula de escape, canalizando a insatisfa��o para um eloq�ente cinismo passivo. A sociedade do espet�culo aproveita as a��es delirantes contra seus mais delirantes aspectos. Os sat�ricos tem freq�entemente uma rela��o de depend�ncia de amor e de �dio no que diz respeito a seus objetivos; a par�dia chega a n�o distinguir-se daquilo que parodia, dando a impress�o de que tudo � igualmente estranho, insignificante e desesperante.
Em uma sociedade baseada na confus�o e sustentada artificialmente, a primeira tarefa n�o � agregar mais confus�o e artificialismo. As irrup��es ca�ticas n�o geram habitualmente outra coisa sen�o irrita��o e p�nico, resultando em que as pessoas ap�iem qualquer medida que o governo tome para restaurar a ordem. Uma interven��o radical pode parecer a principio estranha e incompreens�vel; mas se for levada a cabo com suficiente lucidez, as pessoas prontamente a entender�o perfeitamente.
Imagine que est�s na Universidade de Estrasburgo no inicio do ano letivo em 1966-67, entre estudantes, professorado e distintos convidados que entram no audit�rio para ouvir o discurso inaugural do presidente de Gaulle. Encontras um pequeno panfleto colocado em cada assento. Um programa? N�o. Algo sobre �a mis�ria da vida estudantil�. Abres o folheto ociosamente e come�as a ler: �Podemos afirmar sem grande risco de nos equivocarmos, que depois da policia e do sacerdote, o estudante � na Fran�a o ser mais universalmente depreciado...�. Olhas ao derredor e v�s que todos os demais tamb�m o est�o lendo, com rea��es que v�o desde a perplexidade e regozijo at� rea��es de choque e horror. Quem � o respons�vel por isso? O t�tulo da p�gina revela que foi publicado pela Uni�o dos Estudantes de Estrasburgo, mas se refere tamb�m � �Internacional Situacionista�, qualquer que seja ela...
O que torna o esc�ndalo de Estrasburgo diferente de outras goza��es estudantis, ou das cabriolas confusas e contundentes de grupos como os yippies, foi sua forma escandalosa que trazia consigo um conte�do igualmente escandaloso. No momento em que os estudantes se proclamaram como o setor mais radical da sociedade, este texto foi a �nica coisa que p�s as coisas em seu lugar. Mas as mis�rias particulares dos estudantes apenas estavam ali por serem o ponto de partida; textos igualmente duros podiam e deviam ser escritos sobre a mis�ria de todos os demais segmentos da sociedade (preferivelmente daqueles que a conhecem a partir de dentro). Algumas tentativas haviam sido efetuadas, de fato, mas nenhuma se aproximou tanto da lucidez e da coer�ncia como esse panfleto situacionista, t�o conciso quanto compreensivo, t�o provocativo quanto exato, pela sua abordagem met�dica de uma situa��o espec�fica atrav�s de ramifica��es cada vez mais gerais, com o cap�tulo final apresentando o resumo mais conciso que existe do moderno projeto revolucion�rio. (Ver Sobre a mis�ria da vida estudantil e o artigo �Nossos fins e nossos m�todos no esc�ndalo de Estrasburgo em I.S. # 11.)
Os situacionistas nunca pretenderam provocar sozinhos a revolu��o de maio de 1968 � como foi dito, eles predisseram o conte�do da revolta, mas n�o o desfecho nem o lugar. Mas sem o esc�ndalo de Estrasburgo e a agita��o subseq�ente do grupo Enrag�s influenciado pela IS (da qual o bem conhecido Movimento 22 de mar�o foi apenas uma imita��o tardia e confusa) a revolta nunca se sucederia. N�o havia crises econ�micas ou governamentais na Fran�a, nenhuma guerra ou antagonismo racial desestabilizava o pais, nem nenhuma outra quest�o particular que pudesse anunciar uma revolta como a que ocorreu. Na It�lia e na Inglaterra estavam em marcha lutas oper�rias mais radicais, na Alemanha lutas estudantis mais militantes. No Jap�o, movimentos contraculturais mais amplos, como tamb�m nos EUA e nos Pa�ses Baixos. Mas apenas na Fran�a havia uma perspectiva que vinculava todos ao mesmo tempo.
Interven��es cuidadosamente calculadas como o esc�ndalo de Estrasburgo devem ser cuidadosamente diferenciadas n�o apenas de desordens confusionistas, mas tamb�m das revela��es meramente espetaculares. Na medida em que a cr�tica social se limita a contestar este ou aquele detalhe, a rela��o espet�culo-espectador se reconstitui continuamente: se os cr�ticos conseguem desacreditar os l�deres pol�ticos existentes, acabam muitas vezes se convertendo em novas estrelas (Ralph Nader, Noam Chomsky, etc.) que alimentam seus espectadores mais conscientes com um fluxo continuo de informa��es escandalosas a respeito das quais raramente fazem qualquer coisa. As revela��es mais moderadas conseguem uma audi�ncia que ap�ia esta ou aquela fac��o do poder intragovernamental; as mais sensacionalistas alimentam a curiosidade m�rbida do povo, incitando-o a consumir mais artigos, telejornais e docudramas, fora os intermin�veis debates acerca das diversas teorias da conspira��o. � evidente que a maior parte destas teorias n�o s�o sen�o reflexos delirantes da falta de sentido hist�rico cr�tico produzida pelo espet�culo moderno, e tentativas desesperadas de encontrar algum sentido coerente em uma sociedade cada vez mais incoerente e absurda. Em qualquer caso, na medida em que as coisas permanecem no terreno do espetacular quase n�o importa se algumas destas teorias estejam certas: aqueles que passam o dia na expectativa do que ir� acontecer algo amanh� nunca afetar�o o futuro.
Certas revela��es s�o mais interessantes n�o s� por levantar temas significativos ao debate p�blico, mas tamb�m por atrair muita gente ao debate. Um exemplo simp�tico foi o esc�ndalo de 1963 de �Spies for Peace� na Inglaterra, onde alguns desconhecidos anunciaram a localiza��o de um refugio at�mico secreto reservado aos membros do governo. Quanto mais veemente a amea�a do governo em perseguir a qualquer um que reproduzisse este �segredo de estado� que j� n�o era segredo para ningu�m, mais alegre e criativa era a difus�o por milhares de grupos e de indiv�duos (que come�aram tamb�m a descobrir e a invadir muitos outros ref�gios secretos). Tanto a estupidez do governo como a loucura do espet�culo da guerra nuclear ficaram evidentes para qualquer pessoa, a espont�nea rea��o em cadeia humana aportou uma mostra de um potencial social mui diferente.
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A mis�ria da pol�tica eleitoral
�Nenhum governo liberal desde 1814 subiu ao poder a n�o ser pela viol�ncia. C�novas, suficientemente inteligente para ver a inconveni�ncia e o perigo que isto representava, determinou que os governos conservadores deveriam ser sucedidos regularmente por governos liberais. Diante de uma crise econ�mica ou de uma greve, o plano seria demitir e deixar que os liberais resolvessem o problema. Isto explica por que a maior parte da legisla��o repressiva aprovada durante o resto do s�culo foi aprovada por eles�.
�Gerald Brenan, The Spanish Labyrinth
O melhor argumento a favor da pol�tica eleitoral radical foi elaborado por Eugene Debs, o l�der socialista americano que em 1920 obteve cerca de um milh�o de votos para a presid�ncia enquanto permanecia na pris�o por opor-se � I Guerra Mundial: �Se as pessoas n�o tem informa��es suficientes para saber em quem votar, n�o saber�o contra quem disparar�. Por outro lado, os trabalhadores durante a revolu��o alem� de 1918-19 n�o sabiam contra quem disparar exatamente devido � presen�a dos l�deres �socialistas� no governo trabalhando constantemente para reprimir � revolu��o.
A grosso modo podemos distinguir cinco graus de "governo":
(1) liberdade irrestrita
(2) democracia direta
(3) democracia delegada
(4) democracia representativa
(5) ditadura de uma minoria
A presente sociedade oscila entre os pontos (4) e (5), isto �, entre governo minorit�rio declarado e governo minorit�rio disfar�ado, ambos camuflados por uma fachada simb�lica de democracia. Uma sociedade liberada eliminaria os pontos (4) e (5) e progressivamente reduziria a necessidade dos pontos (2) e (3). . .
Nas democracias representativas as pessoas abdicam de seu poder ao eleger governantes. A plataforma pol�tica dos candidatos s�o limitadas a algumas vagas generalidades. Uma vez eleitos, h� pouco controle sobre suas reais decis�es em centenas de assuntos -- apesar da possibilidade de redirecionamento do voto das pessoas, alguns anos depois, para outros pol�ticos rivais igualmente incontrol�veis. Em suas campanhas, os representantes dependem das contribui��es e dos subornos dos ricos; s�o subordinados aos donos dos meios de comunica��o de massa que decidem o que vai e o que n�o vai ser divulgado pela m�dia; e eles s�o quase t�o ignorantes e impotentes quanto o p�blico em geral, dando muita import�ncia aos assuntos que s�o pautados pelos burocratas n�o eleitos e pelas agencias secretas independentes. Eventualmente, ditadores declarados podem ser depostos, mas os verdadeiros governantes nos regimes "democr�ticos", aquela min�scula minoria que virtualmente possui e controla tudo, nunca � eleita nem interna nem externamente. A maioria das pessoas nem mesmo sabe quem eles s�o . . . .
O ato de votar, por si s�, de uma forma ou de outra, � destitu�do de grande signific�ncia (aqueles que fazem um grande alvoro�o recusando-se a votar apenas revelam seu pr�prio fetiche). O problema do voto � que ele tende a fazer com que pessoas deixem a a��o a cargo de outras pessoas, tornando remotas as possibilidades mais significantes. No final das contas, as pessoas que tomam alguma iniciativa criativa (pense nos primeiros protestos pelos direitos civis) podem alcan�ar um resultado mais efetivo do que colocar sua energia na elei��o de pol�ticos menos ruins. Na melhor das hip�teses, os legisladores raramente fazem mais do que aquilo que foram for�ados a fazer pela press�o dos movimentos populares. Um regime conservador sob press�o de movimentos radicais independentes freq�entemente concede mais que um regime liberal que sabe que pode contar com o apoio radical. Se as pessoas invariavelmente se re�nem para obter o menos ruim, tudo o que qualquer governante tem que fazer em qualquer situa��o que ameace seu poder � eliminar qualquer amea�a de um mal maior.
At� mesmo no caso raro quando um pol�tico "radical" tem uma chance real de ganhar uma elei��o, todos os tediosos esfor�os de campanha de milhares de pessoas podem repentinamente virar em nada diante de algum esc�ndalo trivial descoberto em sua vida pessoal, ou porque ele inadvertidamente disse algo inteligente. Se consegue evitar estas armadilhas, ele tende a evitar assuntos controversos temendo desagradar os eleitores indecisos. Se finalmente acaba sendo eleito, ele quase nunca implementa as reformas que prometeu, a n�o ser, talvez, depois de anos de disputas e embates com seus novos colegas; que lhe d� uma boa desculpa para sua principal prioridade: fazer os acordos necess�rios para que se mantenha indefinidamente no poder. Na lida com os ricos e poderosos, ele desenvolve novos interesses e gostos pelos quais ele se justifica dizendo que merece essas coisas para se recuperar dos anos que dedicou trabalhando pela causa. Pior de tudo, se ele eventualmente consegue passar algumas medidas "progressivas", este excepcional e normalmente trivial sucesso � colocado como uma prova de que as pol�ticas eleitorais s�o dignas de confian�a, atraindo muito mais pessoas que ir�o desperdi�ar suas energias nas futuras campanhas deste tipo.
Uma das picha��es de maio de 1968 ilustra bem esse aspecto, "submeter-se a um chefe � doloroso; escolher um chefe � est�pido!"
Os referendos sobre temas espec�ficos s�o menos suscept�veis � precariedade dos personalismos; mas os resultados n�o s�o com freq��ncia melhores porque os temas tendem a ser colocados de modo simplista, e qualquer projeto de lei que ameace os interesses dos poderosos normalmente acaba derrotado pela influencia do dinheiro e dos meios de comunica��o.
�s vezes as elei��es locais oferecem �s pessoas uma oportunidade mais realista de influenciar as pol�ticas e manter sob vigil�ncia os candidatos eleitos. Mas nem mesmo as comunidades mais conscientes est�o imunes � deteriora��o do resto do mundo. Se uma cidade consegue preservar caracter�sticas ambientais ou culturais desej�veis, estas mesmas vantagens a situam sob uma crescente press�o econ�mica. O fato de se dar preferencia aos valores humanos em detrimento aos valores de propriedade causa no final das contas enormes incrementos aos �ltimos (muita gente vai querer inverter essa situa��o ou mudar-se dali). Cedo ou tarde o incremento dos valores de propriedade se sobrep�e aos valores humanos: as pol�ticas locais acabam anuladas por escal�es superiores ou pelos governos nacionais ou regionais, chega muito dinheiro de fora para influir nas elei��es municipais, os pol�ticos municipais s�o subornados, os bairros residenciais s�o demolidos para dar lugar a arranha-c�us e autopistas, a rentabilidade sobe vertiginosamente, as classes mais pobres s�o expulsas (inclusive os diversos grupos �tnicos e artistas bo�mios que animavam e compunham o aspecto original da cidade), e tudo o que resta da antiga comunidade s�o alguns lugares separados de �interesse hist�rico� para o consumo dos turistas.
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Reformas e institui��es alternativas
N�o obstante, �atuar localmente� pode ser um bom ponto de partida. Quem sente que a situa��o global � desesperadora ou incompreens�vel pode buscar sem embargo uma oportunidade de afetar algum assunto local espec�fico. Associa��es de moradores, cooperativas, centros de informa��o, grupos de estudo, escolas alternativas, cl�nicas gratuitas de sa�de, teatros comunais, peri�dicos de bairro, emissoras de radio e televis�o de acesso p�blico e muitos outros tipos de institui��es alternativas s�o valiosas em si mesmas, e se s�o suficientemente participativas podem conduzir a movimentos mais amplos. Mesmo que n�o durem muito, aportam um terreno temporal da experimenta��o radical.
Mas sempre dentro de alguns limites. O capitalismo foi capaz de desenvolver-se gradualmente dentro da sociedade feudal, no momento em que a revolu��o capitalista se desfez dos �ltimos vest�gios do feudalismo, a maioria dos mecanismos da nova ordem burguesa estavam j� firmemente assentados. Uma revolu��o anticapitalista, pelo contrario, n�o pode realmente construir sua nova sociedade �sobre a arma��o da velha�. O capitalismo � muito mais flex�vel e onipenetrante do que era feudalismo, e tende a cooptar qualquer organiza��o opositora.
Os te�ricos radicais do s�culo XIX podiam todavia ver suficientes res�duos sobreviventes das formas comunais tradicionais para supor que, uma vez consumada a elimina��o da estrutura exploradora, poderiam reviver e ampliar-se para formar os alicerces de uma nova sociedade. Mas a penetra��o global do capitalismo espetacular no presente s�culo destru�u quase todas as formas de controle popular e de intera��o humana direta. Inclusive os esfor�os mais modernos da contracultura dos anos sessenta foram h� muito integrados pelo sistema. As cooperativas, os gr�mios, as granjas de alimentos org�nicos e outras empresas marginais podem produzir bens de melhor qualidade sob as melhores condi��es laborais, mas esses benef�cios todavia tem que funcionar como mercadorias no mercado. As poucas empresas afortunadas tendem a desenvolver-se no comercio ordin�rio, nos quais os membros fundadores assumem gradualmente um status de propriet�rios ou de diretores diante dos novos trabalhadores, envolvendo-se com todo tipo de assuntos burocr�ticos e comerciais rotineiros que nada tem que ver com �preparar o terreno para uma nova sociedade�.
Quanto mais dura uma institui��o alternativa, mais ela tende a perder seu car�ter volunt�rio, experimental, desinteressado. Seus assalariados permanentes desenvolvem um interesse pessoal na manuten��o do status quo e evitam quest�es controversas temendo ofender seus partid�rios ou perder seus fundos de governo ou das funda��es. As institui��es alternativas tamb�m tendem a exigir demasiadamente o j� limitado tempo livre das pessoas, dispersando, subtraindo energia e imagina��o no confronto de temas mais gerais. Depois de um breve per�odo a participa��o acaba esquecida e abandonada, deixando o trabalho aos tipos servi�ais ou aos esquerdistas que tentam dar um bom exemplo ideol�gico. Pode soar bonito ouvir falar de associa��es de moradores, etc., mas a menos que suceda uma emerg�ncia local pode ser fastidioso ag�entar reuni�es intermin�veis para escutar as reclama��es de teus vizinhos, ou participar de assuntos que realmente n�o te interessam.
Em nome do realismo, os reformistas se limitam a perseguir objetivos �fact�veis�, mas mesmo quando conseguem algo, ele � normalmente neutralizado por algum desenvolvimento em outro n�vel. Isto n�o significa que as reformas sejam irrelevantes, s�o simplesmente insuficientes. Temos que continuar resistindo os males particulares, mas temos tamb�m que reconhecer que enquanto n�o dermos um fim ao pr�prio sistema ele continuar� gerando outros novos problemas. Supor que uma serie de reformas resultar�o finalmente em uma mudan�a qualitativa � como pensar que podemos chegar a atravessar um abismo de dez metros com uma serie de pulinhos.
Geralmente � assumido que como a revolu��o implica em uma mudan�a bem maior que reformas, deve ser mais dif�cil leva-la a cabo. A grosso modo, pode ser na realidade mais f�cil, porque de um golpe elimina muitas pequenas complica��es e provoca um entusiasmo muito maior. Em certa medida chega a ser mais pr�tico come�ar do zero do que recuperar uma estrutura apodrecida.
Entretanto, at� que uma situa��o revolucionaria nos capacite para sermos verdadeiramente construtivos, o melhor que podemos fazer � ser criativamente negativos � nos concentrarmos no esclarecimento cr�tico, deixando que as pessoas persigam qualquer objetivo poss�vel que possa interessar-lhes, mas sem a ilus�o de que uma sociedade nova se �constr�i� mediante a gradual acumula��o de tais projetos.
Os projetos puramente negativos (p.e. aboli��o das leis contra o uso de drogas, sexo consensual e outros crimes sem v�timas) tem a vantagem da simplicidade: beneficiam quase a todos (exceto a esta dupla simbi�tica, o crime organizado e a industria de controle do crime) e requerem pouco trabalho, se � que tem algum, para serem exitosos. Mas por outro lado, n�o aportam uma grande oportunidade de participa��o criativa.
Os melhores projetos s�o aqueles que s�o valiosos por si mesmos na medida em que cont�m um desafio impl�cito a algum aspecto fundamental do sistema; projetos que permitem �s pessoas participar em temas atraentes de acordo com seu grau de interesse, enquanto tendem a abrir caminho a possibilidades mais radicais.
Menos interessantes, se bem que �teis, s�o as demandas por melhores condi��es ou direitos mais igualit�rios. Embora tais projetos n�o sejam em si mesmos mui participativos podem eliminar impedimentos � participa��o.
As menos desej�veis s�o as meras lutas de soma zero, onde a gan�ncia de um grupo � a perda de outro.
Em �ltima an�lise a quest�o n�o � dizer �s pessoas o que elas devem fazer, mas faz�-las ter consci�ncia daquilo que est�o fazendo. Se promovem algum assunto para recrutar gente, � apropriado revelar seus motivos manipulativos. Se cr�em que est�o contribuindo para um cambio radical, pode ser �til mostrar-lhes como sua atividade est� realmente refor�ando o sistema de alguma forma. Mas se est�o realmente interessados no projeto pelo projeto, que continuem!
Mesmo se estamos em desacordo com suas prioridades (coleta de fundos para a �pera, por exemplo, enquanto a rua est� cheia de gente sem teto) dever�amos nos guardar de qualquer estrat�gia que meramente invoque a culpabilidade das pessoas, n�o s� por tais invoca��es exercem geralmente um efeito negativo mas porque tal moralismo reprime saud�veis aspira��es positivas. Abster-se de enfrentar assuntos de �qualidade de vida� porque o sistema continua estabelecendo quest�es de sobreviv�ncia � submeter-se a uma chantagem que j� n�o tem nenhuma justifica��o. �O feij�o e o sonho� j� n�o s�o mutuamente excludentes.(4)
Os projetos de �qualidade de vida� s�o com freq��ncia de fato mais inspiradores que demandas pol�ticas e econ�micas rotineiras porque despertam nas pessoas perspectivas mais ricas. Os livros de Paul Goodman s�o plenos de exemplos imaginativos e muito divertidos. Mesmo que suas propostas sejam �reformistas�, o s�o de uma forma t�o viva e provocativa que aportam um estimulante contraste com a servil postura defensiva da maioria dos reformistas de hoje, que se limitam a reagir � agenda dos reacion�rios dizendo: �Estamos de acordo no que � essencial: criar emprego, lutar contra o crime, defender nossa p�tria com energia; mas os m�todos moderados conseguem isto melhor que as propostas extremistas dos conservadores�.
Se tudo segue igual, faz mais sentido concentrar nossa energia em temas que n�o recebem a aten��o p�blica; � melhor trabalhar com projetos que podem ser executados limpa e diretamente por seus pr�prios interessados do que atrav�s de agencias governamentais. Mesmo que tais compromissos n�o pare�am demasiado s�rios, criam um mal precedente. A depend�ncia diante do estado quase sempre se volta contra algo (comiss�es designadas para suprimir a corrup��o burocr�tica sempre acaba se desdobrando em novas burocracias corruptas; leis desenhadas para desbaratar grupos reacion�rios armados terminam sendo utilizadas principalmente para perseguir grupos radicais desarmados).
O sistema prefere matar dois p�ssaros com um �nico tiro do que aceitar seus oponentes oferecer �solu��es construtivas� a suas pr�prias crises. De fato necessita uma certa oposi��o para dar conta dos problemas, for�ar a racionaliza��o, exercitar seus instrumentos de controle e encontrar desculpas para impor novas formas de controle. Medidas de emerg�ncia s�o imperceptivelmente convertidas em procedimentos normais, de igual forma regulamenta��es que normalmente poderiam ser contestadas s�o introduzidas em situa��es de p�nico. A lenta e constante destrui��o da personalidade humana por todas as institui��es da sociedade alienada, da escola � f�brica, da propaganda ao urbanismo, aparecem como normais quando o espet�culo enfoca obsessivamente crimes individuais sensacionais, manipulando pessoas at� a histeria em favor da ordem p�blica.
Corre��o pol�tica, ou igualdade na aliena��o
A aliena��o, acima de tudo, prospera quando pode desviar a contesta��o social para disputas por posi��es privilegiadas dentro dela.
Esta � uma quest�o particularmente espinhosa. Toda desigualdade social necessita ser desafiada, n�o s� por ser injusta, mas porque enquanto permanecer pode ser utilizada para dividir as pessoas. Lograr igualdade na escravid�o salarial ou oportunidades iguais para chegar a ser burocrata ou capitalista apenas constitui uma vitoria do capitalismo burocr�tico.
� natural e necess�rio que as pessoas defendam seus pr�prios interesses; mas se o fazem identificando-se demasiado exclusivamente com algum grupo social particular tendem a perder de vista a situa��o mais geral. Na medida em que categorias cada vez mais fragmentadas pelejam por migalhas destinadas a cada uma, caem em jogos mesquinhos de culpabiliza��o mutua e a no��o de abolir a estrutura hier�rquica � completamente esquecida. Pessoas que sempre est�o dispostas a denunciar diante da mais leve insinua��o de estere�tipos acabam entusiasmando-se a ponto de agrupar quase todo mundo entre os �opressores�, e ent�o se perguntam porque encontram rea��es t�o fortes por toda parte, inclusive por gente consciente de que tem pouco poder real sobre suas pr�prias vidas, e muito menos sobre a dos demais.
Fora os demagogos reacion�rios (alegremente adotados pelos �progressistas� como alvos f�ceis para o rid�culo) os �nicos realmente beneficiados por estas disputas de aniquila��o mutua s�o aqueles que lutam por postos burocr�ticos, concess�es do governo, vagas acad�micas, contratos publicit�rios, clientes comerciais, ou partidos pol�ticos nas �pocas de vacas magras. Farejar a �incorre��o pol�tica� lhes permite derrubar rivais e cr�ticos e refor�ar suas pr�prias posi��es como especialista reconhecido ou porta-voz de sua fac��o particular. Os diversos grupos oprimidos e que s�o suficientemente est�pidos para aceitar tais porta-vozes n�o percebem a mudan�a sen�o diante da sensa��o agridoce do ressentimento autojustificado e da rid�cula terminologia oficial evocada pela neolingua de Orwell.(5)
H� uma distin��o crucial, embora �s vezes sutil, entre lutar contra os males sociais e alimentar-se deles. Ningu�m aumenta seu poder porque � alentado a refastelar-se em seu pr�prio vitimismo. A autonomia individual n�o se desenvolve refugiando-se em alguma identidade grupal. N�o se demonstra igualmente intelig�ncia recha�ando o pensamento l�gico. N�o se promove o di�logo radical perseguindo pessoas que n�o se conformam com alguma ortodoxia pol�tica, e menos ainda lutando para refor�ar legalmente tal ortodoxia.
Nem se faz historia reescrevendo-a. A verdade � que necessitamos nos libertar do respeito acr�tico ao passado e discernir onde houve tangivers�o. Mas temos que reconhecer que apesar de nossa desaprova��o diante dos preju�zos e das injusti�as do passado, � improv�vel que ter�amos atuado melhor diante das mesmas condi��es. Aplicar os padr�es atuais retroativamente (corrigir a cada momento os autores do passado que utilizaram antigas formas masculinas convencionais, ou querer censurar Huckleberry Finn porque Huck n�o se refere a Jim como uma �pessoa de cor�) s� refor�a a ignor�ncia hist�rica que o espet�culo moderno logra estimular com tanto �xito.
Inconvenientes do moralismo e do extremismo simplista
Muitos destes absurdos derivam da falsa assun��o de que ser radical implica viver conforme algum �princ�pio� moral � como se ningu�m pudesse agir pacificamente sem ser um pacifista total, ou defender a aboli��o do capitalismo sem desfazer-se de todo seu dinheiro. A maioria das pessoas tem demasiado sentido comum para seguir realmente estes ideais simplistas, mas se sentem com freq��ncia vagamente culpados por n�o faz�-lo. Esta culpabilidade lhes paralisa e lhes faz mais suscept�veis � chantagem dos manipuladores esquerdistas (que nos dizem que se n�o temos a coragem de nos sacrificar, devemos apoiar acr�ticamente aqueles que o fazem). Ou tratam de reprimir sua culpa denegrindo a outros que parecem mais comprometidos: um trabalhador manual pode orgulhar-se de n�o vender-se mentalmente como um professor; que qui�� se sente superior a um publicit�rio; que pode por sua vez menosprezar a algu�m que trabalha na industria de armamento
Converter problemas sociais em quest�es morais pessoais distrai a aten��o de sua solu��o potencial. Tentar mudar as condi��es sociais mediante a caridade � como tentar elevar o n�vel do mar derramando caixas de �gua no oceano. Se algu�m logra algum bem mediante a��es altru�stas, confiar nelas como estrat�gia geral � f�til porque sempre ser�o a exce��o. � natural que a maior parte das pessoas considera antes seus pr�prios interesses aos interesses de seu pr�ximo. Um dos m�ritos dos situacionistas foi haver superado as invoca��es esquerdistas da culpa e do auto-sacrificio destacando que a primeira causa para fazer uma revolu��o somos nos mesmos.
�Ir ao povo� para �servi-lo�, �organiza-lo�, �radicaliza-lo� conduz normalmente � manipula��o e resulta com freq��ncia em apatia ou hostilidade. O exemplo das a��es independentes dos outros � um meio de inspira��o mais forte e saud�vel. Na medida em que as pessoas come�am a atuar por si mesmas tornam-se mais dispostas a trocar experi�ncias, colaborar em termos de igualdade e, caso necess�rio, solicitar assist�ncia espec�fica. E quando ganha sua pr�pria liberdade � muito mais dif�cil voltar atr�s. Um dos grafites de maio de 69 dizia: �N�o estou a servi�o do povo (muito menos de seus chamados l�deres) � que o povo se vire sozinho�. Outro assinalava mais sucintamente: �N�o me liberte � Eu cuido disso�.
Uma cr�tica total significa que tudo � question�vel, n�o uma oposi��o a tudo. Os radicais esquecem isto com freq��ncia e caem em uma espiral de oposi��es mutuas mediante afirma��es cada vez mais extremistas, supondo que qualquer compromisso eq�ivale a vender-se, que todo prazer eq�ivale a cumplicidade com o sistema. Realmente, estar �a favor� ou �contra� alguma posi��o pol�tica � bem f�cil, e normalmente t�o sem sentido, como estar a favor ou contra algum time de futebol. Aqueles que proclamam arrogantemente sua �total oposi��o� a todo compromisso, toda autoridade, toda organiza��o, toda teoria, toda tecnologia, etc., normalmente n�o tem nenhuma perspectiva revolucionaria � nenhuma concep��o pr�tica sobre como o sistema presente pode ser derrubado ou como poderia funcionar uma sociedade p�s-revolucion�ria. Alguns inclusive tentam justificar esta car�ncia declarando que uma simples revolu��o nunca poderia ser o bastante radical para satisfazer sua eterna rebeldia ontol�gica.
Esta �nfase do tudo ou nada podem impressionar temporariamente a alguns espectadores, mas seu efeito �ltimo � simplesmente aborrecer �s pessoas. Cedo ou tarde as contradi��es e hipocrisias conduzem ao desencanto e � resigna��o. Ao projetar sobre o mundo suas pr�prias frustra��es, os extremistas acabam concluindo que toda mudan�a radical � sem esperan�a e reprime a experi�ncia total; ou qui�� se alienam em alguma posi��o reacion�ria igualmente n�scia.
Imagine se todo radical tivesse que ser um Durruti. � melhor nos esquecermos dele e nos dedicarmos a quest�es mais realiz�veis. Mas ser radical n�o significa ser o mais extremo. Em seu sentido original significa simplesmente ir � raiz. A raz�o da necessidade de ser radical para lutar pela aboli��o do capitalismo e do estado n�o significa que este seja o objetivo mais extremo que se possa imaginar, significa que chegou a ser desgra�adamente evidente que menos que isso n�o bastar�.
Temos que dar-nos conta daquilo que � necess�rio e suficiente; buscar projetos que sejamos verdadeiramente capazes de fazer, que sejam fact�veis dentro de uma probabilidade realista. O que passar disso � ar quente. Muitas das t�ticas radicais mais velhas e inclusive mais efetivas � debates, cr�ticas, boicotes, greves, ocupa��es, conselhos oper�rios � logram popularidade precisamente porque s�o simples, relativamente seguras, amplamente aplic�veis, e bastante abertas para conduzir a possibilidades mais amplas.
O extremismo simplista busca naturalmente seu contraste mais extremo. Se todos os problemas podem ser atribu�dos a uma mera camarilha sinistra de �fascistas totais� tudo o mais parecer� comparativa e confortavelmente progressista. A realidade � que as formas atuais de domina��o moderna s�o normalmente bem sutis, proliferam soltas e sem oposi��o.
Fixar a aten��o nos reacion�rios s� os refor�a, os faz parecer mais poderosos e fascinantes. �N�o importa que nossos oponentes nos ridicularizem ou nos insultem, ou mesmo nos apresentem como palha�os ou criminosos; o essencial � que falem de n�s, que se preocupem conosco� (Hitler). Reich destacou que �instruir as pessoas para que odeiem a pol�cia s� fortalece a autoridade da pol�cia e a investe de um poder m�stico aos olhos dos pobres e desvalidos. Os fortes s�o odiados mas tamb�m temidos, invejados e seguidos. Sentimentos de medo e inveja por parte dos �despossuidos� explica uma parte do poder dos reacion�rios pol�ticos. Um dos principais objetivos da luta racional pela liberdade � desarmar aos reacion�rios expondo o car�ter ilus�rio de seu poder� (People in Trouble).
O principal problema que implica em comprometimento � mais pr�tico do que moral: � dif�cil atacar algo quando nos mesmos estamos implicados nele. Criticamos com evasivas por medo que outros nos critiquem por sua vez. Se torna mais dif�cil conceber grandes id�ias ou atuar com aud�cia. Como se observou com freq��ncia, muitos alem�es consentiram a opress�o nazi porque ela foi implementada de maneira bem gradual e esteve a principio dirigida principalmente contra minorias impopulares (judeus, ciganos, comunistas, homossexuais); at� que chegou ao ponto de afetar a popula��o como um todo, incapacitada de fazer qualquer coisa.
� f�cil condenar retrospectivamente aqueles que capitularam diante do fascismo ou do estalinismo, mas � prov�vel que a maioria de n�s n�o faria diferente se estivesse no lugar deles. Em nossas ilus�es, nos pintamos como um personagem dram�tico enfrentando uma op��o bem definida diante de uma audi�ncia que a valoriza, imaginamos que n�o temos problema em levar a cabo a decis�o correta. Mas as situa��es que encaramos na realidade s�o normalmente mais complexas e obscuras. Nem sempre � f�cil saber onde fixar limites.
Pois que os fixemos em algum lugar, deixemos de lado a preocupa��o pela culpa, vergonha e autojustifica��o, e tomemos a ofensiva.
Este esp�rito � bem ilustrado por aqueles trabalhadores italianos que foram � greve sem fazer reivindica��es de nenhum tipo. Tais greves n�o apenas s�o mais interessantes que as negocia��es usuais dos sindicatos burocr�ticos, como podem inclusive ser mais efetivas: os chefes, sem saber o que fazer, acabam muitas vezes concedendo muito mais do que o grevista se atreveria reivindicar. Estes podem ent�o decidir sobre seu segundo passo sem ter se comprometido com nada.
Uma rea��o defensiva contra este ou aquele sintoma social consegue na melhor das hip�teses t�o somente alguma concess�o tempor�ria sobre o tema espec�fico. A agita��o agressiva que recha�a o limite exerce maior press�o. Diante de movimentos imprevis�veis mui extensos, como a contracultura dos anos sessenta ou a revolta de maio de 68 � movimentos que p�em tudo em d�vida, gerando contesta��es aut�nomas em muitas frentes, amea�ando estender-se por toda a sociedade. Demasiado vastos para ser controlados por l�deres cooptaveis � os dominadores se precipitam em limpar sua imagem, aprovam reformas, aumentam os sal�rios, libertam prisioneiros, declaram anistias, iniciam processos de paz � qualquer coisa com a esperan�a de adiantar-se ao movimento e restabelecer seu controle. (A absoluta incontrolabilidade da contracultura americana, que se estendeu intensamente at� o pr�prio ex�rcito, jogou provavelmente um grande papel, tanto que o movimento anti-guerra explicitou for�ar o fim da guerra do Vietn�).
O lado que toma a iniciativa define os termos da luta. Na medida em que segue inovando, ret�m tamb�m o elemento surpresa. �A aud�cia � na pr�tica um poder criativo. Quando a aud�cia se defronta com a vacila��o j� tem uma vantagem significativa porque o pr�prio estado de vacila��o implica uma perda de equil�brio. Apenas quando a aud�cia se defronta com uma previs�o cauta fica em desvantagem�. (Clausewitz, Sobre a guerra). Mas a previs�o cauta � mui rara entre aqueles que controlam esta sociedade. A maior parte dos processos de mercantiliza��o, espetaculariza��o e hierarquiza��o s�o cegos e autom�ticos: mercadores, os meios de comunica��o e os l�deres seguem simplesmente suas tend�ncias naturais de obter dinheiro, captar audi�ncia ou recrutar seguidores.
A sociedade do espet�culo � com freq��ncia v�tima de suas pr�prias falsifica��es. Posto que cada n�vel da burocracia trata por si mesmo de proteger-se com estat�sticas infladas, cada �fonte de informa��o� sobrepuja �s outras com historias mais sensacionais, cada estado supera outro em compet�ncia, os departamentos governamentais e as companhias privadas p�em em pr�tica suas pr�prias opera��es de desinforma��o independentes (ver cap�tulos 16 e 30 sobre os Coment�rios � sociedade do espet�culo), at� mesmo os dominadores que excepcionalmente vislumbram alguma lucidez dificilmente poder�o averiguar o que � que realmente est� ocorrendo. Como observa Debord em outro lugar do mesmo livro: um estado que reprimiu seu pr�prio conhecimento hist�rico j� n�o mais pode conduzir-se estrategicamente.
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Vantagens e limites da n�o-violencia
�Toda a historia do progresso da liberdade humana mostra que qualquer concess�o, seja ela qual for, nasce da luta. . . . Se n�o h� luta n�o h� avan�o. Aqueles que professam a liberdade mas lamentam a agita��o s�o homens que querem colher sem arar a terra. Que querem chuva sem trov�es e rel�mpagos. Que querem o oceano sem o imponente bramido de suas �guas. A luta pode ser moral; pode ser f�sica; pode ser moral e f�sica ao mesmo tempo, mas deve ser uma luta. O poder n�o concede nada sem que se lhe pe�am. Nunca o fez e nunca o far�.
�Frederick Douglas
Qualquer pessoa com algum conhecimento de hist�ria tem a consci�ncia de que as sociedades n�o mudam sem uma resist�ncia tenaz e freq�entemente selvagem a quem est� no poder. Se nossos ancestrais n�o houvessem recorrido a violentas revoltas, muitos daqueles que agora virtuosamente as deploram certamente seriam servos ou escravos.
O funcionamento rotineiro desta sociedade � muito mais violento do que qualquer rea��o que virtualmente venha a ocorrer contra ela. Imagine o esc�ndalo que provocaria um movimento radical que executasse 20.000 oponentes; pois esta � a estimativa m�nima do n�mero de crian�as que o sistema presente condena � morte por inani��o a cada dia. Assim, as vacila��es e compromissos permitem que esta viol�ncia continue em marcha indefinidamente, causando em �ltima instancia milhares de vezes mais sofrimento que uma simples e decisiva revolu��o.
Afortunadamente, uma revolu��o moderna, genuinamente majorit�ria, teria relativamente pouca necessidade de viol�ncia exceto para neutralizar aqueles elementos da minoria dominante que tratam de manter violentamente seu pr�prio poder.
A viol�ncia pela viol�ncia � n�o apenas indesej�vel, al�m de gerar p�nico (e deste modo, a manipula��o) tamb�m promove a organiza��o militarista (portanto, a hierarquia). Quanto � n�o-violencia ela implica em uma organiza��o mais aberta e democr�tica; tende a promover a serenidade e a compaix�o e rompe o ciclo miser�vel do �dio e da vingan�a.
Mas temos que evitar fazer da n�o-viol�ncia um fetiche. A velha r�plica, �Como se pode trabalhar pela paz com m�todos violentos?� n�o tem mais l�gica do que dizer a um homem que est� se afogando para que fique em terra firme e se afaste da �gua. Ao esfor�ar-se por resolver �mal entendidos� mediante o di�logo, os pacifistas esquecem que alguns problemas se baseiam em conflitos de interesses objetivos. Os pacifistas tendem a subestimar a mal�cia dos inimigos enquanto exageram sua pr�pria culpabilidade, censurando inclusive seus pr�prios �sentimentos violentos�. A pr�tica de �declarar-se� (contra a guerra, etc.), que pode parecer uma express�o de autonomia pessoal, na realidade reduz o ativista a um objeto passivo, �mais um pela paz�, que (como um soldado) p�e seu corpo na frente de batalha ao mesmo tempo em que abdica da investiga��o ou da experimenta��o pessoal. Aquele que quiser descartar uma no��o de guerra excitante e her�ica deve ir al�m de uma no��o de paz servil e miser�vel. Ao definir seu objetivo como sobreviv�ncia, os ativistas pela paz tem pouco a dizer �queles que est�o fascinados pela aniquila��o global precisamente porque adoeceram por uma vida quotidiana reduzida � mera sobreviv�ncia, de maneira que v�em a guerra n�o mais como uma amea�a mas como uma liberta��o bem vinda diante de uma vida chata e atolada em uma ansiedade mesquinha.
Sentindo que seu purismo n�o resiste � prova da realidade, os pacifistas costumam manter uma ignor�ncia intencional sobre as lutas sociais do passado e do presente. Embora com freq��ncia sejam capazes de intensos estudos e de uma autodisciplina est�ica em sua pr�tica espiritual pessoal. Aparentemente cr�em que um conhecimento hist�rico e estrat�gico ao n�vel do Reader�s Digest ser� suficiente para sustentar suas iniciativas de �compromisso social�. � como algu�m que espera evitar a queda de uma mala eliminando a lei da gravidade, acham mais simples imaginar uma luta moral infind�vel contra a �cobi�a,� o ��dio,� a �ignor�ncia�, a �intoler�ncia,� do que amea�ar aquelas estruturas sociais que realmente refor�am esses males. Se eventualmente algu�m insiste que se enfrente estas quest�es, se queixam de que a contesta��o radical � um terreno mui estressante. Como de fato o �, mas tal obje��o se torna estranha quando vem daqueles cujas pr�ticas espirituais afirmam tornar as pessoas capazes de enfrentar os problemas com objetividade e equanimidade.
H� um momento maravilhoso em A cabana do tio Tom: Uma certa fam�lia ajuda alguns escravos a escapar para o Canad�, quando aparece um homem do sul procurando por escravos fugidos. Algu�m lhe aponta uma escopeta e lhe diz, �amigo, n�o precisamos de sua ajuda por aqui�. Penso que este � o tom correto: n�o escorregar no �dio, nem mesmo no desprezo, mas estar disposto a fazer o que for necess�rio diante de uma determinada situa��o.
As rea��es contra os opressores s�o compreens�veis, mas aqueles que chegam a se envolver demasiadamente com eles correm o risco de escravizar-se tanto mental como materialmente, amarrados a seus amos por �v�nculos de �dio�. O �dio para com os amos � em parte uma proje��o de �dio a si mesmo por todas as humilha��es e compromissos que se tem aceito, que � o resultado da vaga consci�ncia de que os chefes existem em �ltima instancia apenas porque os governados os toleram. E mesmo que �a esc�ria tenda a levantar-se como espuma�, a maioria das pessoas que ocupam posi��es de poder n�o atuam de modo mui diferente do que faria qualquer outro diante da mesma posi��o, com os mesmos interesses, tenta��es e novos medos.
Vigorosos revanches podem ensinar as for�as inimigas a respeitar-te, mas tendem tamb�m a perpetuar antagonismos. A miseric�rdia �s vezes atrai para teu lado os inimigos, mas pode tamb�m simplesmente lhes dar uma oportunidade para a recupera��o e novamente te golpear. Nem sempre � f�cil determinar qual destas duas pol�ticas � melhor e em que circunstancias. As pessoas que tem suportado regimes particularmente viciados querem naturalmente ver castigados aqueles que os perpetraram; mas um excesso de vingan�a mostra a outros opressores presentes ou futuros que � melhor para eles lutar at� a morte uma vez que n�o tem nada a perder.
Mas a maioria das pessoas, inclusive aqueles que foram vergonhosamente c�mplices do sistema, observam para onde sopra o vento. A melhor defesa contra a contra-revolu��o n�o � ruminar ofensas do passado ou poss�veis trai��es futuras, mas aprofundar a insurgencia ao ponto de atrair todo mundo.
NOTAS
1. A difus�o por parte da I.S. de um texto denunciando uma assembl�ia internacional de cr�ticos de arte na B�lgica foi um belo exemplo disso: �Foram enviadas c�pias a um grande n�mero de cr�ticos ou entregues pessoalmente. A outros foram feitos telefonemas onde se lia o texto completo ou em parte. Um grupo for�ou sua entrada no Clube de Imprensa onde os cr�ticos estavam sendo recebidos e espalharam os panfletos na audi�ncia . . . Em resumo, foram dados todos os passos necess�rios para n�o dar nenhuma possibilidade aos cr�ticos de ser inconscientes da exist�ncia do texto�.
2. �A aus�ncia de um movimento revolucion�rio na Europa reduziu a esquerda a sua m�nima express�o: uma massa de espectadores que desmaia de arrebatamento cada vez que os explorados das col�nias se al�am em armas contra seus donos, e que n�o podem evitar de ver estes levantes como o ep�tome da revolu��o. . . . Ali onde h� um conflito eles v�em sempre o Bem lutando contra o Mal, �revolu��o total� versos �rea��o total�. . . .. A cr�tica revolucion�ria come�a bem al�m do bem e do mal; est� enraizada na hist�ria e opera sobre a totalidade do mundo existente. Em nenhum caso pode aplaudir a um estado beligerante ou apoiar � burocracia de um estado explorador em processo de forma��o. . . . � obviamente imposs�vel por agora buscar uma solu��o revolucionaria � guerra do Vietn�. � necess�rio em primeiro lugar por fim � agress�o americana para permitir que a luta social real no Vietn� se desenvolva de um modo natural, i.e. para capacitar aos trabalhadores e camponeses vietnamitas redescobrir seus inimigos dentro de seu pr�prio pais: a burocracia do norte e os estratos dominantes e propriet�rios do sul. Uma vez que os americanos se retirem, a burocracia estalinista tomar� o controle do pais inteiro � esta conclus�o � inevit�vel. . . . A quest�o � n�o dar apoio incondicional (e nem mesmo condicional) ao Vietcong, mas lutar consistente e intransigentemente contra o imperialismo americano�. (�Das guerras locais� I.S. #11, pp. 195-196, 203.)
3. �Em sua forma mistificada, a dial�tica chegou a ser uma moda na Alemanha porque parecia transfigurar e glorificar o estado de coisas existente. Em sua forma racional � um esc�ndalo e uma abomina��o para a sociedade burguesa e seus professores doutrin�rios, porque compreendendo o estado de coisas existente reconhece simultaneamente a nega��o deste estado, sua dissolu��o inevit�vel.; porque contempla o movimento fluido de toda forma social historicamente desenvolvida, e portanto leva em conta sua transitoriedade tanto como sua exist�ncia moment�nea; e por n�o deixar que nada se imponha sobre ela �, em sua ess�ncia cr�tica, revolucion�ria.� (Marx, El Capital.)
A cis�o entre marxismo e anarquismo mutilou a ambos. Os anarquistas criticaram devidamente as tend�ncias autorit�rias e redutivamente economicistas no marxismo, mas geralmente o fizeram de uma maneira adial�tica, moralista, ahist�rica, contrapondo v�rios dualismos absolutos (Liberdade versos Autoridade, Individualismo versos Coletivismo, Centraliza��o versos Descentraliza��o, etc.) e deixando a Marx e a outros quantos marxistas radicais um virtual monop�lio sobre a an�lise dial�tica coerente � at� que os situacionistas voltaram novamente a unir os aspectos libert�rios e dial�ticos. Sobre os m�ritos e imperfei��es do marxismo e do anarquismo ver A Sociedade do espet�culo �� 78-94.
4. �O que emergiu nesta primavera em Zurich como manifesta��o contra o fechamento dos centros juvenis se estendeu por toda Su��a, alimentando o descontentamento de uma gera��o jovem ansiosa por romper com o que eles v�em como sociedade sufocante. �N�o queremos um mundo onde a garantia de n�o morrer de fome se paga com a certeza de morrer de aborrecimento�, proclamam aos quatro ventos pelas vitrines de Lausanne�. (Christian Science Monitor, 28 de outubro de 1980.) O slogan � do Tratado de saber viver... de Vaneigem.
5. Para alguns exemplos hilariantes ver Henry Beard e Christopher Cerf�: The Official Politically Correct Dictionary and Handbook (Villard, 1992): � dif�cil discernir com freq��ncia se os termos politicamente corretos neste livro s�o sat�ricos, se foram propostos realmente a serio ou se foram inclusive adotados e refor�ados oficialmente. O �nico ant�doto para tal del�rio s�o umas quantas sadias gargalhadas.
Fim do cap�tulo 2 de �A Alegria da Revolu��o� de Ken Knabb, tradu��o de Railton Sousa Guedes. Vers�o original: The Joy of Revolution.
No copyright.
Cap�tulo 1: Coisas da vida
Utopia ou precip�cio. �Comunismo� estalinista e �socialismo� reformista s�o
simples variantes do capitalismo. Democracia representativa versus democracia
delegativa. Irracionalidades do capitalismo. Revoltas modernas exemplares.
Algumas obje��es comuns. O dominio crescente do espet�culo.
Cap�tulo 2: Excita��o preliminar
Descobertas pessoais. Interven��es cr�ticas. Teoria versus ideologia. Evitar
falsas op��es e elucidar as verdadeiras. O estilo insurrecional. Cine radical.
Opress�o versus jogo. O esc�ndalo de Estrasburgo. A mis�ria da pol�tica
eleitoral. Reformas e institui��es alternativas. Corre��o pol�tica, ou igualdade
na aliena��o. Inconvenientes do moralismo e o extremismo simplista. Vantagens da
aud�cia. Vantagens e limites da n�o viol�ncia.
Cap�tulo 3:
Momentos decisivos
Causas das diferen�as sociais. Convuls�es de p�s-guerra. Efervesc�ncia de
situa��es radicais. Auto-organiza��o popular. O FSM. Os situacionistas en maio
de 1968. O obrerismo est� obsoleto, mas a posi��o dos trabalhadores continua
sendo o ponto central. Greves selvagens e ocupa��es. Greves de consumo. O que
podia ter acontecido em maio de 1968. M�todos de confus�o e coopta��o. O
terrorismo refor�a o estado. O momento decisivo. Internacionalismo.
Cap�tulo 4: Renascimento
Os ut�picos n�o prev�em a diversidade
p�s-revolucion�ria. Descentraliza��o e coordena��o. Salvaguardas contra os
abusos. Consenso e dominio da maioria. Eliminar as ra�zes da guerra e do crime.
Aboli��o do dinheiro. Absurdo da maior parte do trabalho presente. Transformar o
trabalho em jogo. Obje��es tecnof�bicas. Temas ecol�gicos. O florescimento de
comunidades livres. Problemas mais interessantes.
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