B U R E A U   O F   P U B L I C   S E C R E T S


 

A Alegria da Revolu��o

Cap. 1. Coisas da vida

 

Utopia ou precip�cio
Comunismo estalinista e socialismo reformista s�o simples variantes do capitalismo
Democracia representativa versus democracia delegada
Irracionalidade do capitalismo
Revoltas modernas exemplares
Algumas obje��es comuns
O crescente dom�nio do espet�culo


 Cap�tulo 1: Coisas da vida

S� podemos compreender este mundo questionando-o como um todo. . . . A raiz da aus�ncia de imagina��o dominante n�o pode ser compreendida a menos que sejamos capazes de imaginar o que falta, isto �, o desaparecido, o oculto, o proibido, e o poss�vel na vida moderna.�

�Internacional Situacionista(1)

Utopia ou precip�cio

Nunca ocorreu na historia um contraste t�o deslumbrante entre o que poderia ser e o que realmente �.

Basta examinar hoje todos os problemas do mundo � a maioria dos quais s�o bem conhecidos, e meditar sobre eles normalmente n�o produz outro efeito sen�o tornar-nos menos sens�veis � sua realidade. Mas mesmo que sejamos �suficientemente est�icos para suportar as desgra�as dos outros�, a grande deteriora��o social presente nos afeta a todos. Quem n�o padece a repress�o f�sica direta tem que suportar as repress�es mentais impostas por um mundo cada vez mais med�ocre, estressante, ignorante e feio. Quem escapa da pobreza econ�mica n�o pode escapar do empobrecimento geral da vida.

Mas nem mesmo nesse n�vel mesquinho a vida pode ser levada. A destrui��o do planeta pelo desenvolvimento mundial do capitalismo chegou a um ponto em que a humanidade pode extinguir-se em poucas d�cadas.

Mas, sem d�vida, este mesmo desenvolvimento baseado previamente na escassez material, tornou poss�vel abolir ao sistema da hierarquia e da explora��o, e inaugurar uma nova e genuina forma de sociedade livre.

Saltando de um desastre para outro em meio � dem�ncia coletiva e ao apocalipse ecol�gico, este sistema desenvolveu um impulso incontrol�vel at� mesmo por seus supostos donos. Quanto mais nos aproximamos de um mundo em que n�o somos capazes de abandonar nossos guetos fortificados sem vigilantes armados, nem sair � rua sem aplicar prote��o solar para n�o pegar um c�ncer de pele, mais se torna dif�cil levar a s�rio quem nos aconselha mendigar algumas reformas.

O que faz falta, creio, � uma revolu��o democr�tica-participativa mundial que aboliria tanto o capitalismo como o estado. Admito que � pedir muito, mas temo que n�o bastar� nenhuma solu��o de menor alcance para atingir a raiz de nossos problemas. Pode parecer absurdo falar de revolu��o, mas todas as alternativas assumem a continua��o do atual sistema, o que � ainda mais absurdo.

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�Comunismo� estalinista e �socialismo� reformista
s�o simples variantes do capitalismo

Antes de entrar nas premissas dessa revolu��o e responder a algumas obje��es t�picas, ressaltamos que revolu��o n�o tem nada a ver com os repugnantes estere�tipos que normalmente evocam a palavra (terrorismo, vingan�a, golpes de estado, l�deres manipuladores que predicam o auto-sacrif�cio, militantes zumbis entonando slogans politicamente corretos). Particularmente n�o deve ser confundida com os principais fracassos das modernas tentativas de mudan�as sociais: o �comunismo� estalinista e o �socialismo� reformista.

Depois de d�cadas no poder, primeiro na R�ssia e depois em muitos outros lugares, ficou �bvio que o estalinismo � o oposto de uma sociedade livre. A origem desse fen�meno grotesco � menos �bvia. Os trotskistas e outros tem tratado de diferenciar o estalinismo do antigo bolchevismo de Lenin e Trotsky. � verdade que existem diferen�as, mas s�o mais de grau que de tipo. O Estado e a Revolu��o de Lenin, por exemplo, apresenta uma cr�tica mais coerente do estado que a que pode ser encontrada na maioria dos escritos anarquistas; o problema � que os aspectos radicais do pensamento de Lenin acabaram disfar�ando a real pr�tica autorit�ria bolchevique. Situando-se ao lado das massas que afirmava representar, e com uma hierarquia interna entre os militantes do partido e seus l�deres, o partido bolchevique j� se encaminhava para a cria��o das condi��es para o desenvolvimento do estalinismo quando Lenin e Trotsky assumiram firmemente o controle.(2)

Mas devemos ver claramente o que falhou se queremos fazer melhor. Se socialismo significa plena participa��o das pessoas nas decis�es sociais que afetam suas pr�prias vidas, isso n�o existiu nem nos regimes estalinistas do Leste nem nos estados de bem-estar do Oeste. O recente colapso do estalinismo n�o � nem uma vindica��o do capitalismo nem uma prova do fracasso do �comunismo marxista�. Qualquer um que se d� ao trabalho de ler Marx (a maior parte de seus eloq�entes cr�ticos obviamente n�o faz isso) sabe que o leninismo representa uma severa distor��o do pensamento marxista e que o estalinismo � sua parodia total. A propriedade estatal, tampouco, nada tem nada a ver com o comunismo em seu aut�ntico sentido de propriedade comum, comunal; � simplesmente um tipo diferente de capitalismo em que a propriedade nas m�os da burocracia do estado substitui (ou se combina com) a propriedade privada corporativa.

H� muito tempo o espet�culo da oposi��o entre estas duas variantes de capitalismo oculta seu refor�o m�tuo. Os s�rios conflitos se limitam a batalhas por representa��es no Terceiro Mundo (Vietn�, Angola, Afeganist�o, etc.). Nenhuma das partes leva a cabo um intento real de golpear o inimigo em seu pr�prio cora��o. (O Partido Comunista Franc�s sabotou a revolta de maio de 68; os poderes ocidentais, v�m intervindo massivamente onde n�o s�o chamados, ao mesmo tempo em que recusaram enviar algumas poucas armas antitanques que os insurgentes h�ngaros de 1956 necessitavam desesperadamente). Guy Debord assinalou em 1967 que o capitalismo de estado estalinista simplesmente se revelou como um �parente pobre� do cl�ssico capitalismo ocidental, e que sua queda privaria os dominadores do Oeste da pseudo-oposi��o que os refor�avam aparentando representar a �nica alternativa a seu sistema. �A burguesia est� na emin�ncia de perder o advers�rio que objetivamente a apoiava aportando uma unifica��o ilus�ria de toda a oposi��o � ordem existente�. (A Sociedade do Espet�culo, ��110-111).

Embora os l�deres do Oeste fingissem dar boas vindas ao recente colapso estalinista como uma vitoria natural de seu pr�prio sistema, nenhum deles previu e obviamente nem tinha id�ia do que fazer com os problemas resultantes, exceto tirar partido da situa��o antes do desmoronamento. As corpora��es multinacionais monopol�sticas que proclamam o �comercio livre� como uma panac�ia s�o muito conscientes de que o capitalismo de livre mercado teria se arrebentado h� muito tempo por suas pr�prias contradi��es se n�o houvesse sido salvo mediante umas quantas reformas pseudo socialistas estilo New Deal.

Pode ser que aquelas reformas (servi�os p�blicos, seguridade social, jornada de oito horas, etc.) at� tenham melhorado alguns dos defeitos mais not�rios do sistema, mas n�o passou disso. Nos recentes anos nem mesmo isso se manteve diante do aceleramento das crises. As melhoras mais significativas foram conseguidas em todos os casos apenas mediante grandes, freq�entes e violentas lutas populares onde os burocratas, os partidos de esquerda e os sindicatos, sempre pretendendo dirigir essas lutas, funcionaram principalmente como v�lvulas de escape, cooptando as tend�ncias radicais e engraxando as engrenagens da m�quina social.

Como os situacionistas tem mostrado, a burocratiza��o dos movimentos radicais, que rebaixou as pessoas ao n�vel de simples seguidoras constantemente �tra�das� por seus l�deres, est� ligada � espetaculariza��o crescente da sociedade capitalista moderna, que tem reduzido as pessoas � condi��o de simples espectadores de um mundo sobre o qual n�o t�m qualquer controle � um fato que se torna cada vez mais not�rio, embora normalmente n�o seja suficientemente compreendido.

Tomadas em conjunto, todas estas considera��es apontam para a conclus�o de que uma sociedade livre pode ser criada apenas mediante a participa��o ativa das pessoas como um todo, n�o mediante organiza��es hier�rquicas que supostamente atuam em benef�cio da sociedade. N�o se trata aqui de eleger l�deres mais honestos ou �respons�veis�, mas de evitar conceder um poder independente a qualquer l�der, seja l� quem for. Indiv�duos ou grupos podem iniciar a��es radicais, mas uma por��o substancial e extensa da popula��o deve tomar parte se o movimento pretende conduzir a uma nova sociedade e n�o simplesmente dar um golpe de estado que instale novos dominadores.

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Democracia representativa versus democracia delegada

N�o repetirei todas as cl�ssicas cr�ticas socialistas e anarquistas do capitalismo do estado. S�o amplamente conhecidas, ou pelo menos amplamente acess�veis. Mas para acabar com algumas das confus�es da ret�rica pol�tica tradicional pode ser �til resumir os tipos b�sicos de organiza��o social. Para ser mais claro, come�arei examinando separadamente os aspectos �pol�ticos� e �econ�micos�, embora estejam obviamente inter-relacionados. Tratar de igualar as condi��es econ�micas das pessoas mediante uma burocracia de estado � t�o f�til quanto tentar democratizar a sociedade enquanto o poder do dinheiro permite a uma min�scula minoria controlar as institui��es que determinam a consci�ncia da realidade social das pessoas. Uma vez que o sistema funciona como um todo s� pode ser mudado fundamentalmente como um todo.

Come�ando pelo aspecto pol�tico, podemos distinguir de forma aproximada cinco graus de �governo�:

(1) Liberdade sem restri��o
(2) Democracia direta
        a) consenso
        b) dominio da maioria
(3) Democracia delegada
(4) Democracia representativa
(5) Ditadura aberta de uma minoria

A presente sociedade oscila entre os pontos (4) e (5), isto �, entre governo minorit�rio declarado e governo minorit�rio disfar�ado, ambos camuflados por uma fachada simb�lica de democracia. Uma sociedade livre eliminaria os pontos (4) e (5) e progressivamente reduziria a necessidade dos pontos (2) e (3). . .

Discutirei mais tarde os dois tipos de (2). Mas a distin��o crucial est� entre (3) e (4).

Nas democracias representativas as pessoas abdicam de seu poder ao eleger governantes. A plataforma pol�tica dos candidatos s�o limitadas a algumas vagas generalidades. Uma vez eleitos, h� pouco controle sobre suas reais decis�es em centenas de assuntos -- apesar da possibilidade de redirecionamento do voto das pessoas, alguns anos depois, para outros pol�ticos rivais igualmente incontrol�veis. Em suas campanhas, os representantes dependem das contribui��es e do suborno dos ricos; s�o subordinados aos donos dos meios de comunica��o de massa que decidem o que vai e o que n�o vai ser divulgado pela m�dia; e eles s�o quase t�o ignorantes e impotentes quanto o p�blico em geral, dando muita import�ncia aos assuntos que s�o pautados pelos burocratas n�o eleitos e pelas agencias secretas independentes. Eventualmente, ditadores declarados podem ser depostos, mas os verdadeiros governantes nos regimes "democr�ticos", aquela min�scula minoria que virtualmente possui e controla tudo, nunca � eleita nem interna nem externamente. A maioria das pessoas nem mesmo sabe quem s�o eles . . . .

Na democracia delegada, os delegados s�o eleitos para prop�sitos determinados com limita��es muito espec�ficas. Podem atuar estritamente sob mandato (encarregados de votar de uma certa maneira em um certo assunto) ou o mandato pode ficar em aberto (os delegados s�o livres para votar como bem entendem) mas reservando �s pessoas que os elegeram o direito de confirmar ou recha�ar qualquer decis�o tomada. Geralmente os delegados s�o eleitos para per�odos bem curtos e est�o sujeitos a revoga��o a todo momento.

No contexto das lutas radicais, as assembl�ias de delegados normalmente s�o chamadas de �conselhos�. A forma de conselho foi inventada pelos trabalhadores em greve durante a revolu��o russa de 1905 (soviete � a palavra russa que significa conselho). Quando os sovietes reapareceram em 1917, foram sucessivamente apoiados, manipulados, dominados e finalmente cooptados pelos bolcheviques, que logo conseguiram transforma-los em parodias de si mesmos: apoiadores do �Estado Sovi�tico� (o �ltimo soviete independente que sobreviveu, o dos marinheiros de Kronstadt, foi massacrado em 1921). N�o obstante os conselhos reapareceram espontaneamente nos momentos mais radicais da historia subseguinte, na Alemanha, It�lia, Espanha, Hungria e outros lugares, porque representavam a solu��o �bvia � necessidade de uma forma pr�tica de auto-organiza��o popular n�o hier�rquica. E continuamente receberam a oposi��o de todas as organiza��es hier�rquicas, pela amea�a que representavam ao dom�nio das elites especializadas por apontar para a possibilidade de uma sociedade de autogest�o generalizada: n�o a autogest�o em alguns locais do presente sistema, mas a autogest�o estendida a todas as regi�es do globo e a todos os aspectos da vida.

Mas como ressaltamos acima, a quest�o das formas democr�ticas n�o pode ser separada de seu contexto econ�mico.

* * *

Irracionalidades do capitalismo

A organiza��o econ�mica pode ser estudada desde a perspectiva do trabalho:

(1) Totalmente volunt�rio
(2) Cooperativo (autogest�o coletiva)
(3) For�ado e explorador
-- a) aberto (trabalho dos escravos)
-- b) disfar�ado (trabalho assalariado)

E desde a perspectiva da distribui��o:

(1) Verdadeiro comunismo (acesso totalmente livre)
(2) Verdadeiro socialismo (propriedade e controle coletivos)
(3) Capitalismo (propriedade privada ou estatal)

Embora seja poss�vel regular os bens e servi�os produzidos pelo trabalho assalariado, pelo trabalho volunt�rio ou cooperativo para converter-se em mercadorias para o mercado, a maior parte destes n�veis de trabalho e de distribui��o tendem a corresponder-se uns com os outros. A sociedade atual � predominantemente (3): produ��o e consumo for�ado de mercadorias. Uma sociedade livre deve eliminar (3) e reduzir (2) t�o logo quanto poss�vel em favor de (1).

O capitalismo se baseia na produ��o de mercadorias (produ��o de bens para conseguir vantagens) e no trabalho assalariado (a pr�pria for�a de trabalho se compra e se vende como uma mercadoria). Como apontava Marx, h� menos diferen�a entre o trabalhador escravo e o "livre" do que parece. Os escravos s�o providos dos meios de sua sobreviv�ncia e reprodu��o, ao passo que os trabalhadores (que se convertem em escravos tempor�rios em suas horas de trabalho) s�o obrigados a pagar a maior parte de seu sal�rio. O fato de alguns trabalhos serem mais desagrad�veis que outros, dos trabalhadores terem direito de mudar de trabalho, de empreender seu pr�prio neg�cio, de comprar estoques ou ganhar na loteria, encobrem a realidade de que a imensa maioria das pessoas est� coletivamente escravizada.

Como chegamos a esta situa��o absurda? Se retrocedermos o suficiente, descobriremos que em algum momento as pessoas foram despossu�das pela for�a: expulsa da terra e consequentemente privada dos meios para produzir os bens necess�rios para a vida. (Os famosos cap�tulos sobre a "acumula��o primitiva" de O Capital descrevem vivamente este processo na Inglaterra). Na medida em que as pessoas aceitam esta usurpa��o como leg�tima, se v�em obrigadas a um trato desigual com os "propriet�rios" (aqueles que lhes roubaram, ou que conseguiram posteriormente t�tulos de "propriedade" emitidos pelos ladr�es originais), assim, acabam trocando seu trabalho por uma fra��o do que realmente produzem, sendo retida a plusvalia pelos propriet�rios. Esta plusvalia (capital) pode ent�o ser reinvestida gerando continuamente maiores plusvalias pelo mesmo processo.

No que diz respeito � distribui��o, uma fonte p�blica de �gua pot�vel � um exemplo simples de verdadeiro comunismo (acesso ilimitado). Uma biblioteca p�blica � um exemplo de verdadeiro socialismo (acesso livre mas regulado).

Em uma sociedade racional, a acessibilidade deveria depender da abund�ncia. Durante a seca, a �gua deve ser racionada. Por outro lado, uma vez que as bibliotecas estivessem inteiramente postas on-line poderiam chegar a ser totalmente comunizadas: todos poderiam ter acesso livre instantaneamente a qualquer quantidade de textos sem necessidade de fichas nem de devolu��es, de seguro contra ladr�es, etc.

Mas esta rela��o racional est� impedida pela persist�ncia de interesses econ�micos distintos. Como �ltimo exemplo, logo ser� tecnicamente poss�vel criar uma "biblioteca" mundial em que todos os livros escritos, todos os filmes realizados e todas as interpreta��es musicais gravadas poderiam ser colocadas on-line, potencialmente acess�veis, para que quem quiser possa receber livremente e obter copias (sem necessidade de lojas, comercio, propaganda, empacotamento, transporte, etc.). Mas como isto eliminaria os benef�cios atuais de publica��o, grava��o e com�rcio de filmes, se investe muito mais energia confeccionando complicados m�todos para proteger e cobrar as c�pias (enquanto outros dedicam energia correspondente procurando maneiras de driblar tais impecilhos) que do que em desenvolver uma tecnologia que poderia beneficiar potencialmente a todos.

Um dos m�todos de Marx foi o de superar a obtusidade dos discursos pol�ticos baseados em princ�pios abstratos filos�ficos ou �ticos (�natureza humana� tal e qual, todo mundo tem um �direito natural� isso ou aquilo) mostrando como as possibilidades sociais e a consci�ncia social est�o limitadas e configuradas em alto grau pelas condi��es materiais. A liberdade em termos abstratos significa pouco se quase todo mundo tem que trabalhar o tempo todo simplesmente para assegurar sua sobreviv�ncia. N�o � realista esperar que as pessoas sejam generosas e cooperativas quando existe apenas o suficiente para cada um (uma condi��o bem diferente daquela onde o �comunismo primitivo� floresceu). Mas um excedente suficientemente grande abre possibilidades mais amplas. A esperan�a de Marx e de outros revolucion�rios de seu tempo estava baseada no fato de que os potenciais tecnol�gicos desenvolvidos pela revolu��o industrial aportavam ao cabo em bases materiais adequadas para uma sociedade sem classes. J� n�o era uma quest�o de afirmar que as coisas "deveriam" ser diferentes, mas de indicar que poderiam ser diferentes; a domina��o de classe � n�o apenas injusta, � agora desnecess�ria.

Foi realmente sequer necess�ria em outros tempos? Marx estava certo quando viu o desenvolvimento do capitalismo e o estado como etapas inevit�veis? Seria poss�vel uma sociedade livre sem esse penoso desvio? Afortunadamente, j� n�o � preciso ocupar-se destas quest�es. Quaisquer que fossem as possibilidades do passado, as condi��es materiais presentes s�o mais que suficientes para sustentar uma sociedade global sem classes.

O mais s�rio retrocesso do capitalismo n�o � sua injusti�a quantitativa � o simples fato de que a riqueza esteja desigualmente distribu�da, e de que os trabalhadores n�o recebam o �valor� completo de seu trabalho. O principal problema � que esta margem de explora��o (mesmo quando � relativamente pequena) torna poss�vel a acumula��o privada do capital, que finalmente reordena tudo para seus pr�prios fins, dominando e deformando todos os aspectos da vida.

Quanto mais aliena��o produz o sistema, mais energia social deve ser desviada apenas para mant�-lo em marcha � mais publicidade para vender mercadorias sup�rfluas, mais ideologias para manter as pessoas alienadas, mais espet�culos para mant�-las pacificadas, mais pol�cias e mais pris�es para reprimir o crime e a rebeli�o, mais armas para competir com os estados rivais � todas estas coisas produzem mais frustra��es e antagonismos, que devem ser reprimidos com mais espet�culos, mais pris�es, etc. Enquanto continuar este c�rculo vicioso, as reais necessidades humanas ser�o apenas incidentalmente satisfeitas, ou nem mesmo o ser�o em absoluto, na medida em que quase todo o trabalho � canalizado para projetos absurdos, redundantes ou destrutivos que n�o servem a outro prop�sito sen�o manter o sistema.

Se este sistema fosse abolido e os potenciais tecnol�gicos modernos fossem transformados e redirigidos apropriadamente, o trabalho necess�rio para cobrir as necessidades humanas se reduziria a um n�vel t�o trivial que poderia ser f�cil realiz�-lo volunt�ria e cooperativamente, sem requerer incentivos econ�micos ou o refor�o do estado.

N�o � dif�cil conceber a id�ia de uma supera��o do poder hier�rquico. A autogest�o pode ser vista como o cumprimento da liberdade e da democracia que s�o os valores oficiais das sociedades ocidentais. Apesar do condicionamento submisso das pessoas, no momento em que for recha�ada a domina��o, elas come�ar�o a falar e a atuar por si pr�prias.

� muito mais dif�cil conceber a id�ia de uma supera��o do sistema econ�mico. A domina��o do capital � muito sutil e auto reguladora. As quest�es do trabalho, da produ��o, dos bens, dos servi�os, do interc�mbio e da coordena��o no mundo moderno parecem t�o complicadas que a maioria das pessoas aceitam a necessidade do dinheiro como media��o universal, sendo dif�cil imaginar qualquer mudan�a al�m de sua distribui��o de um modo mais eq�itativo.

Por esta raz�o discutiremos extensivamente os aspectos econ�micos posteriormente, mais detalhadamente.

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Revoltas modernas exemplares

A revolu��o � inveross�mil? As possibilidades provavelmente dizem o contr�rio. O principal problema � que n�o h� muito tempo. Em �pocas anteriores era poss�vel imaginar que, apesar de todas as loucuras e desastres da humanidade, poder�amos sair ilesos e talvez aprender finalmente dos erros do passado. Mas agora que as pol�ticas sociais e o desenvolvimento tecnol�gico alcan�ou ramifica��es ecol�gicas globais irrevog�veis, o m�todo de tentativa e erro j� n�o � mais suficiente. Temos apenas mais algumas d�cadas para mudar as coisas. E na medida que o tempo passa, esse empreendimento se torna cada vez mais dif�cil: o fato de que os problemas sociais b�sicos apenas s�o encarados, e n�o resolvidos, fortalece cada vez mais o desespero e as tend�ncias delirantes da guerra, do fascismo, do antagonismo �tnico, do fanatismo religioso e outras formas de irracionalidade coletiva, desviando o que poderia ser potencialmente �til para a constru��o de uma nova sociedade em dire��o a a��es de conten��o meramente defensivas e em �ltima instancia futis.

A maioria das revolu��es tem sido precedidas por per�odos em que todos se burlavam com a id�ia de que as coisas pudessem mudar. Apesar das muitas tend�ncias desalentadoras no mundo, h� tamb�m alguns sinais alentadores, o menor deles � o extenso desencanto com respeito �s falsas alternativas anteriores. Muitas revoltas populares deste s�culo se moveram espontaneamente na dire��o correta. N�o me refiro �s revolu��es �exitosas�, que s�o fraudes sem exce��o, mas a esfor�os menos conhecidos, mais radicais. Alguns dos exemplos mais not�veis s�o a R�ssia de 1905, a Alemanha de 1918-19, a It�lia de 1920, as Asturias de 1934, a Espanha de 1936-37, a Hungria de 1956, a Fran�a de 1968, a Checoslov�quia de 1968, Portugal de 1974-75 e a Pol�nia de 1980-81; muitos outros movimentos, desde a revolu��o mexicana de 1910 at� a recente luta anti-apartheid na �frica do Sul, contiveram tamb�m momentos exemplares de experimenta��o popular antes de ca�rem sob o controle burocr�tico.

Ningu�m que tenha analisado cuidadosamente estes movimentos est� em condi��es de recha�ar as expectativas da revolu��o. Ignor�-las por seu �fracasso� � n�o compreender o mais importante.(3)

A moderna revolu��o � tudo ou nada: as revoltas individuais est�o condenadas a fracassar enquanto n�o eclodir uma rea��o internacional em cadeia que se espalhe mais r�pido que a repress�o possa abarcar. N�o � surpreendente que estas revoltas n�o tenham ido mais al�m; o que � estimulante � que foram t�o longe quanto puderam. Um novo movimento revolucion�rio tomar� indubitavelmente formas novas e imprevis�veis; mas estes esfor�os anteriores seguem plenos de exemplos daquilo que se pode fazer e daquilo que n�o se deve fazer.

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Algumas obje��es comuns

Se diz com freq��ncia que uma sociedade sem estado funcionaria se todos f�ssemos anjos, mas que devido � perversidade da natureza humana � necess�rio alguma hierarquia para manter as pessoas nos trilhos. Mais certo seria dizer que se todos f�ssemos anjos o sistema presente poderia funcionar toleravelmente bem (os burocratas atuariam honestamente, os capitalistas se absteriam de empresas socialmente danosas mesmo que fossem rent�veis). � precisamente porque as pessoas n�o s�o anjos que � necess�rio eliminar o sistema que permite a algumas delas chegar a ser diabos muito eficientes. Coloque cem pessoas em uma pequena habita��o com apenas uma janela de ventila��o, e eles se pisotear�o uns aos outros diante da morte eminente. Deixe-os sair e manifestar�o uma natureza diferente. Como disse um grafite de maio de 1968, �O homem n�o � nem o nobre selvagem de Rousseau nem o pecador depravado da Igreja. � violento quando oprimido, terno quando livre�.

Outros sustentam que, quaisquer que sejam as causas profundas, as pessoas est�o agora t�o fastigiadas que necessitam ser curadas psicol�gica ou espiritualmente antes de que possam conceber criar una sociedade livre. Em seus �ltimos anos Wilhelm Reich sentia que uma "praga emocional" estava t�o firmemente incrustada na popula��o que seria necess�rio o surgimento de gera��es de crian�as crescidas saudaveis antes que fosse poss�vel a transforma��o social libertaria; e que enquanto isso conviria evitar confrontar o sistema diante do ninho de vespas do populacho reacion�rio e ignorante.

� certo que as tend�ncias populares irracionais exigem algumas vezes discri��o. Mas mesmo que possam ser poderosas, n�o s�o for�as irresist�veis. Contem suas pr�prias contradi��es. Submeter-se a alguma autoridade absoluta n�o � necessariamente um sinal de f� na autoridade; pode ser uma tentativa desesperada de superar as crescentes d�vidas (a tens�o convulsa de uma rocha que cinde). Aqueles que se unem a bandos e a grupos reacion�rios, ou caem em cultos religiosos ou histeria patri�tica, est�o tamb�m buscando um sentido de liberdade, conex�o, prop�sito, participa��o, poder sobre sua vida. Como Reich mesmo mostrou, o fascismo d� uma express�o particularmente dram�tica e vigorosa �quelas aspira��es b�sicas, � por isso que com freq��ncia exerce um encanto mais profundo que as vacila��es, compromissos e hipocrisias do progressismo e do esquerdismo.

Definitivamente, a �nica forma de derrotar � rea��o � apresentar express�es mais francas destas aspira��es, e oportunidades mais aut�nticas de cumpri-las. Quando os assuntos b�sicos s�o for�ados a sair para o dominio p�blico, as irracionalidades que floresciam sob a tampa da repress�o psicol�gica tendem a diminuir, como os bacilos da enfermidade expostos � luz do sol e do ar fresco. Em qualquer caso, inclusive se n�o nos impormos, h� uma satisfa��o em lutar pelo que realmente cremos, o que � melhor do que cair em uma posi��o de vacila��o e hipocrisia.

Existem limites para algu�m que queira liberar-se (ou criar crian�as liberadas) dentro de uma sociedade enferma. Mas mesmo que Reich estivesse certo ao assinalar que pessoas psicologicamente reprimidas eram menos capazes de conceber a libera��o social, ele falhou em compreender em qual medida o processo da revolta social pode ser psicologicamente libertador. (Psiquiatras franceses disseram haver registrado uma queda significativa no n�mero de seus clientes durante os eventos de maio de 1968!)

A no��o de democracia total real�a o espectro da �tirania da maioria�. Devemos reconhecer que as maiorias podem ser ignorantes e fan�ticas, sem d�vida. Mas a �nica solu��o real � enfrentar esta ignor�ncia e este fanatismo e tentar supera-los. Manter as massas na obscuridade (confiando em ju�zes progressistas para proteger liberdades civis ou em legisladores progressistas para adotar discretamente algumas reformas progressistas) s� conduz � rea��o popular quando as quest�es sens�veis se tornam p�blicas.

Examinados mais detalhadamente, sem d�vida, a maior parte dos exemplos de opress�o de uma minoria por uma maioria n�o se deve ao dom�nio da maioria, mas ao dom�nio encoberto de uma minoria, uma situa��o em que uma elite dominante joga com antagonismos raciais ou culturais de forma a dirigir as frustra��es das massas exploradas umas contra as outras. Quando as pessoas tem poder real sobre suas pr�prias vidas surgem coisas mais importantes a fazer do que perseguir minorias.

Assim se evocam tantos abusos ou desastres que poderiam ocorrer em uma sociedade n�o hier�rquica que se torna imposs�vel responder a todos eles. Essas pessoas que resignadamente aceitam um sistema que a cada ano condena � morte em guerras e pela fome milh�es de semelhantes, e outros milh�es � pris�o e � tortura, s�o as mesmas a se escandalizam ante a ideia de uma sociedade autogestion�ria onde poderiam ocorrer alguns abusos, alguma viol�ncia ou coer��o, ou injusti�a, ou inclusive simplesmente algumas inconveni�ncias temporais. Esquecem que n�o � necess�rio que um novo sistema social resolva todos nossos problemas; mas simplesmente que lide melhor com eles do que o sistema atual � o que n�o � pedir muito.

Se a historia seguisse as opini�es complacentes dos comentaristas oficiais, nunca teriam ocorrido revolu��es. Em qualquer situa��o determinada h� sempre suficientes ide�logos dispostos a afirmar que n�o � poss�vel nenhuma mudan�a radical. Se a economia funciona bem, afirmam que a revolu��o depende das crises econ�micas; se h� crise econ�mica, outros declaram com a mesma confian�a que a revolu��o � imposs�vel porque as pessoas est�o demasiado ocupadas fazendo malabarismos para sobreviver. Os primeiros, surpreendidos pela revolta de maio de 1968, tentaram descobrir retrospectivamente a crise invis�vel que segundo sua ideologia deve ter existido. Os �ltimos sustentam que a perspectiva situacionista foi refutada pelas p�ssimas condi��es econ�micas daquele tempo.

Na realidade, os situacionistas simplesmente destacaram que o logro da crescente abund�ncia capitalista demonstrou que a garantia de sobreviv�ncia n�o � um substituto para a vida real. As subidas e quedas peri�dicas da economia n�o corroboram de nenhuma maneira esta conclus�o. O fato de uns poucos na c�pula da sociedade terem conseguido reunir recentemente de modo gradual uma parte ainda maior da riqueza social, jogando na rua um n�mero cada vez maior de pessoas e aterrorizando o restante da popula��o com a possibilidade de cair na mesma sorte, torna menos evidente a viabilidade de uma sociedade de p�s-escassez; mas os pr�-requisitos materiais est�o bem presentes.

As crises econ�micas que evidenciaram que necessit�vamos �reduzir nossas expectativas� foram realmente causadas pela super-produ��o e pela falta de trabalho. O absurdo mais profundo do atual sistema � o desemprego ser visto como um problema, com as tecnologias potencialmente liberadoras do trabalho dirigidas para a cria��o de novos trabalhos que substituam os velhos que se revelaram n�o mais necess�rios. O problema n�o � que muita gente n�o tenha trabalho, o problema � que muita gente o tenha. Necessitamos ampliar nossas expectativas, n�o reduzi-las.(4)

O crescente dom�nio do espet�culo

Mais s�rio que este espet�culo de nossa suposta falta de poder no plano da economia � o poder enormemente incrementado do pr�prio espet�culo, que em anos recentes se desenvolveu ao ponto de, ao cabo, esmagar qualquer consci�ncia da historia pr�-espet�culo ou das possibilidades anti-espet�culo. Os coment�rios � sociedade do espet�culo (1988) de Debord encaram este novo desenvolvimento em detalhes:

"A mudan�a de maior import�ncia em tudo o que sucedeu nos �ltimos vinte anos reside na pr�pria continuidade do espet�culo. Esta import�ncia n�o se refere ao aperfei�oamento de sua instrumenta��o pelos meios de comunica��o de massa, que anteriormente j� haviam alcan�ado um est�gio de desenvolvimento muito avan�ado; trata-se simplesmente de que a domina��o espetacular tem educado toda uma gera��o submetida a suas leis. . . . A primeira inten��o da domina��o espetacular foi erradicar todo o conhecimento hist�rico em geral, impedindo toda informa��o e coment�rio racional acerca do passado mais recente. . . . O espet�culo se encarrega de manter as pessoas inconscientes do que est� ocorrendo, ou pelo menos de que esque�am rapidamente tudo aquilo que possa traz�-los � consci�ncia. O mais importante � o mais oculto. Nada nos �ltimos �ltimos vinte anos foi t�o profundamente encoberto com mentiras oficiais como maio de 1968. . . . O fluxo de imagens vai abordando tudo, e sempre � o outro quem controla este resumo simplificado do mundo percept�vel, quem decide onde levar� o fluxo, quem programa o ritmo do que � mostrado em uma s�rie inacab�vel de arbitrarias surpresas que n�o deixa tempo para a reflex�o . . . separando tudo o que se mostra de seu contexto, seu passado, suas inten��es e suas conseq��ncias. . . . N�o � assim surpreendente que as crian�as estejam hoje come�ando sua educa��o com uma introdu��o entusiasta ao conhecimento absoluto da linguagem dos ordenadores ao mesmo tempo em que s�o cada vez mais incapazes de ler. Porque ler requer fazer ju�zos a cada linha; e como a conversa��o est� quase morta (como ocorrer� logo com a maioria daqueles que param para conversar) a leitura � o �nico acesso que restou do vasto campo da experi�ncia humana pr�-espet�culo".

Neste texto tratei de recapitular alguns pontos b�sicos que foram sepultados sob esta intensa repress�o espetacular. Se estes assuntos parecem banais a alguns e obscuros a outros, podem ao menos servir para recordar que uma vez foi poss�vel, em tempos primitivos e d�cadas atr�s, que as pessoas tivessem a singular no��o passada da moda de que poderiam entender e afetar sua pr�pria historia.

Embora seja inquestion�vel que as coisas tenham mudado consideravelmente desde os anos sessenta (em sua maior parte para pior), pode ser que nossa situa��o n�o seja t�o desesperadora como parece �queles que engolem tudo aquilo que o espet�culo lhes enfia goela abaixo. �s vezes basta uma sacudidela para romper o estupor.

Mesmo que n�o houvesse a garantia de uma vit�ria final, tais rupturas s�o por si s� um prazer. Existe outro maior?(5)


NOTAS

1. �Geopol�tica da hiberna��o�, International Situationista # 7, p. 10.

2. Vease Maurice Brinton: The Bolsheviks and Workers� Control: 1917-1921, Voline: The Unknown Revolution, Ida Mett: The Kronstadt Uprising, Paul Avrich: Kronstadt 1921, Peter Arshinov: History of the Makhnovist Movement, e Guy Debord: A Sociedade do espet�culo �� 98-113. Existe tamb�m a edi��o impressa de Castellote Editores (Madrid, 1978)

3. �As refer�ncias superficiais de jornalistas e governantes ao ��xito� ou �fracasso� de uma revolu��o n�o significam nada pela simples raz�o de que desde as revolu��es burguesas nenhuma outra revolu��o foi bem sucedida: nenhuma delas aboliu as classes. Embora a revolu��o prolet�ria n�o tenha vencido em parte alguma, o processo pr�tico atrav�s do qual seu projeto se manifestou j� cria pelo menos dez momentos revolucion�rios de import�ncia hist�rica que podem ser chamados apropriadamente de revolu��es. Se em nenhum destes momentos se desenvolveu completamente o conte�do total da revolu��o prolet�ria, � ineg�vel que em cada caso se deu uma interrup��o fundamental da ordem socio-econ�mica dominante e a apari��o de novas formas e concep��es da vida real � fen�menos arraigados que s� podem ser compreendidos e avaliados em sua significa��o conjunta, incluindo seu significado potencial futuro. . . A revolu��o de 1905 n�o derrubou o regime tzarista, obteve apenas algumas concess�es temporais. A revolu��o espanhola de 1936 n�o suprimiu formalmente o poder pol�tico existente: este surgiu, de fato, fora do levante prolet�rio iniciado para defender a Rep�blica contra Franco. E a revolu��o h�ngara de 1956 n�o aboliu o governo liberal-burocr�tico de Nagy. Entre outras limita��es lament�veis, o movimento h�ngaro foi em muitos aspectos um levante nacional contra a domina��o estrangeira; e este aspecto nacional-resistente jogou tamb�m um certo papel, embora menos importante, na origem da Comuna de Paris. A Comuna suplantou o poder de Thiers apenas dentro dos limites de Paris. E o soviete de St. Petersburg de 1905 nem sequer tomou o controle da capital. Todas as crises mencionadas aqui como exemplos, embora deficientes em suas realiza��es pr�ticas e inclusive em suas perspectivas, produziram n�o obstante suficientes inova��es radicais e puseram suas sociedades em um severo xeque tanto que foram chamadas legitimamente de revolu��es�. (�El comienzo de una nueva era�, Internationale Situationniste # 12, pp. 13-14]

4.  �N�o nos interessa ouvir falar dos problemas econ�micos dos exploradores. Se a economia capitalista n�o � capaz de satisfazer as demandas dos trabalhadores, isto simplesmente � uma raz�o a mais para lutar por uma nova sociedade, na qual tenhamos o poder de tomar nossas pr�prias decis�es sobre toda a economia e sobre toda a vida social�. (Trabalhadores das linhas a�reas portuguesas, 27 de outubro de 1974.)

5. No t�tulo original � �The Joy of Revolution� � Ken Knabb ironiza acerca de uma s�rie de livros de divulga��o para as massas, muito populares na Am�rica, com t�tulos como �The Joy of Sex�, �The Joy of Cooking�, �The Joy of Reading�, etc.


Fim do cap�tulo 1 de �A Alegria da Revolu��o� de Ken Knabb, tradu��o de Railton Sousa Guedes. Vers�o original: The Joy of Revolution.

No copyright.

 

Cap�tulo 1: Coisas da vida
Utopia ou precip�cio. �Comunismo� estalinista e �socialismo� reformista s�o simples variantes do capitalismo. Democracia representativa versus democracia delegativa. Irracionalidades do capitalismo. Revoltas modernas exemplares. Algumas obje��es comuns. O dominio crescente do espet�culo.

Cap�tulo 2: Excita��o preliminar
Descobertas pessoais. Interven��es cr�ticas. Teoria versus ideologia. Evitar falsas op��es e elucidar as verdadeiras. O estilo insurrecional. Cine radical. Opress�o versus jogo. O esc�ndalo de Estrasburgo. A mis�ria da pol�tica eleitoral. Reformas e institui��es alternativas. Corre��o pol�tica, ou igualdade na aliena��o. Inconvenientes do moralismo e o extremismo simplista. Vantagens da aud�cia. Vantagens e limites da n�o viol�ncia.

Cap�tulo 3: Momentos decisivos
Causas das diferen�as sociais. Convuls�es de p�s-guerra. Efervesc�ncia de situa��es radicais. Auto-organiza��o popular. O FSM. Os situacionistas en maio de 1968. O obrerismo est� obsoleto, mas a posi��o dos trabalhadores continua sendo o ponto central. Greves selvagens e ocupa��es. Greves de consumo. O que podia ter acontecido em maio de 1968. M�todos de confus�o e coopta��o. O terrorismo refor�a o estado. O momento decisivo. Internacionalismo.

Cap�tulo 4: Renascimento

Os ut�picos n�o prev�em a diversidade p�s-revolucion�ria. Descentraliza��o e coordena��o. Salvaguardas contra os abusos. Consenso e dominio da maioria. Eliminar as ra�zes da guerra e do crime. Aboli��o do dinheiro. Absurdo da maior parte do trabalho presente. Transformar o trabalho em jogo. Obje��es tecnof�bicas. Temas ecol�gicos. O florescimento de comunidades livres. Problemas mais interessantes.

 

[Outros textos em Portugu�s]

 

  


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